Covém não esquecer que Joaquim Teófilo Fernandes Braga foi o Presidente do Governo Provisório que implantou a I República.
«eu sempre falei da abolição do Conselho de Estado, da Câmara dos Pares e do corpo diplomático. Lavraram-se um a um os decretos que demitiam os antigos (diplomatas) e eu vi entrar essa gente toda que para aí está.»
«- Oh meu caro amigo! tire o Bernardino que terá vontade de ser útil ao País, e o resto são todos uns ... eu não digo, eu não digo.» O DIA,
«GOVERNO ALGUM PODE TOMAR A SÉRIO COMO DIPLOMATAS OS INDIVÍDUOS QUE PRESENTEMENTE OCUPAM AS LEGAÇÕES DE PORTUGAL.» "O SECULO" (30/3/1913)
«é tudo uma lástima, meu caro. O Augusto de Vasconcelos quiz ir à viva força para Londres, mas lá não o aceitaram: lá não dão categoria aos cirurgiões para serem ministros plenipotenciários. O Junqueiro devia ir para Espanha, que ele conhece, ele que é todo arte e literatura. Mas por doença de família precisou de ir para a Suíça e então lá abalou para Berna e por lá anda a fazer coisas disparatadas.»
« Esse sujeito [Jose Relvas], logo nos primeiros dias da revolução apresentou-se-nos no conselho de ministros e disse: "Como o Bazílio Teles não vem para as finanças, eu queria ficar no lugar dele." Eu fiquei mesmo parado, a olhar para o Bernardino, pasmado do impudor. Estava uma noite de chuva. E eu então, para dizer qualquer coisa, disse para o Bernardino: Olhe, você vem para baixo? E como ele dissesse que sim, declarei que já era muito tarde, que o melhor era não se resolver nada naquela noite. Mas o homem depois tornou-se a impor, com o grupo do José Barbosa e do Inocêncio Camacho à frente, a empurra-lo, e ficou Ministro das Finanças.»
«Esse [João Chagas]é uma lástima, creia. Tudo que se diz agora contra ele na imprensa francesa não e novidade nenhuma para ninguém de ca. Antes de ele partir para Paris já aqui o Ministro da França tinha as suas informações.»
(21 de Setembro de 2008)
Entrevista de Teófilo Braga com "O SÉCULO":
(30/3/1913)
1. Estou intimamente e absolutamente convencido de que é impossível uma conflagração europeia.
— É por eu estar íntima e absolutamente convencido deste facto que lhe digo que não há necessidade alguma de pensarmos nessa organização guerreira que para aí se apregoa.
— Falámos da questão propriamente interna; falemos agora da nossa situação no campo internacional. Não seria conveniente definir clara e precisamente os termos da aliança inglesa?
— Era bom realmente precisar os direitos e deveres que essa aliança impõe: todavia enquanto os cargos diplomáticos forem ocupados pelas individualidades que actualmente os ocupam não pensemos em tal. Eu sou sempre muito sincero nas afirmações que faço e em verdade lhe digo que estou convencido de que GOVERNO ALGUM PODE TOMAR A SÉRIO COMO DIPLOMATAS OS INDIVÍDUOS QUE PRESENTEMENTE OCUPAM AS LEGAÇÕES DE PORTUGAL.
— Devemos pois tentar definir a nossa situação internacional?
— Sim, mas convencidos de que a melhor garantia para o bom resultado dessa tentativa reside na própria administração do país e nas qualidades dos nossos diplomatas."
("O Século" de 30 de Março de 1913)
4. Não podemos — ainda que queiramos satisfazer a curiosidade dos leitores de "O DIA" — reproduzir tudo o que o actual presidente do Directório do partido [Teófilo Braga] que está no poder nos disse em informações que perfeitamente elucidam aquelas suas palavras que tão escandalosa discussão têm causado, mas que vão além da matéria estrictamente política a que nos circunscrevemos.
Sempre que falei, em conferências e em tudo, entre as coisas negativas que esperava da República eu sempre falei da abolição do Conselho de Estado, da Câmara dos Pares e do corpo diplomático.
Lavraram-se um a um os decretos que demitiam os antigos (diplomatas) e eu vi entrar essa gente toda que para aí está.
- E as suas impressões sobre todos eles?
- Oh meu caro amigo! tire o Bernardino que terá vontade de ser útil ao País, e o resto são todos uns ... eu não digo, eu não digo.
- Referia-se V. Ex.a há pouco ao corpo diplomático actual?
- Aí vou, aí vou; isso é tudo uma lástima, meu caro. O Augusto de Vasconcelos quiz ir à viva força para Londres, mas lá não o aceitaram: lá não dão categoria aos cirurgiões para serem ministros plenipotenciários. »
(Augusto de Vasconcelos. Republicano moderado desde a sua juventude, era considerado amigo pessoal de Afonso Costa e politicamente próximo de Brito Camacho. Era professor catedrático de Escola Médico-Cirúrgica de Lisboa, pela qual se tinha licenciado em 1891. Estreou-se na governação como Ministro dos Negócios Estrangeiros do governo presidido por João Pinheiro Chagas Enveredou então pela diplomacia, ocupando o posto de embaixador de Portugal em Madrid nos anos de 1913 e 1914, passando depois para a embaixada em Londres, que ocupou de 1914 a 1919, período que compreendeu a participação portuguesa na Primeira Guerra Mundial, altura em que a embaixada em Londres tinha um papel crucial na condução política do conflito.)
«O Junqueiro devia ir para Espanha, que ele conhece, ele que é todo arte e literatura. Mas por doença de família precisou de ir para a Suíça e então lá abalou para Berna e por lá anda a fazer coisas disparatadas.
- E do sr. Relvas que impressão tem?
(Jose Relvas, inventor do "escudo" como moeda, Proclamou, a 5 de Outubro de 1910, a instauração da República Portuguesa da varanda da Câmara Municipal de Lisboa, tendo sido ministro das finanças do respectivo Governo Provisório (cargo que obteve á força) de 12 de Outubro de 1910 até à auto-dissolução deste, a 4 de Setembro de 1911, tendo depois exercido o cargo de embaixador de Portugal em Espanha (onde os espanhois o chamavam de "tonto misterioso" pois nunca dizia nada) até 1914. Esteve em seguida bastantes anos afastado da actividade política, até ser nomeado primeiro ministro, a 27 de Janeiro de 1919, tendo exercido aquele cargo até 30 de Março do mesmo ano).
«- Não faz ideia, não faz ideia, meu caro amigo. Esse sujeito, logo nos primeiros dias da revolução apresentou-se-nos no conselho de ministros e disse: "Como o Bazílio Teles não vem para as finanças, eu queria ficar no lugar dele." Eu fiquei mesmo parado, a olhar para o Bernardino, pasmado do impudor. Estava uma noite de chuva. E eu então, para dizer qualquer coisa, disse para o Bernardino: Olhe, você vem para baixo? E como ele dissesse que sim, declarei que já era muito tarde, que o melhor era não se resolver nada naquela noite. Mas o homem depois tornou-se a impor, com o grupo do José Barbosa e do Inocêncio Camacho à frente, a empurra-lo, e ficou Ministro das Finanças. E foram eles que as derrancaram, meu caro amigo.
- E o sr. Relvas, para se propor a Ministro das Finanças, que preferências apontava?
- Ah! esquecia-me dizer-lhe. Alegou que o nome dele já estava apontado noplacard do "SÉCULO" e que a praça de Lisboa o recebia bem. Vê quem eles são?
- Conjecturávamos, com efeito...
- Agora lá está por Madrid, sempre empavesado, muito conselheiral, a fazer de pessoa grande sempre a abanar a cabeça e sem dizer palavra.
La chamam-lhe, por isso.- el tonto mysterioso. Isto não são diplomatas, meu caro amigo.
- V. Ex.a pode referir-se ao sr. Chagas?
(João Chagas, jornalista, diplomata e político português, tendo sido o primeiro primeiro-ministro da I República de Portugal, amigo +pessoal de Jose Relvas foi um dos principais conspiradores contra a Monarquia)
«- Porque não? Conto-lhe coisas muito curiosas. Isso é um drama. Esse é uma lástima, creia. Tudo que se diz agora contra ele na imprensa francesa não e novidade nenhuma para ninguém de ca. Antes de ele partir para Paris já aqui o Ministro da França tinha as suas informações.
O nosso entrevistado aponta então alguns detalhes tão escabrosos da vida íntima do sr. João Chagas que, embora S. Ex.a nos autorizasse a referi-los e os acompanhasse da recomendação "pode pôr tudo isso", com que de resto nos ia munindo a cada passo, nós, contudo, resolvemos guardá-los, visto reflectirmos que estas colunas se destinam a um público bem mais susceptível do que um despreocupado entrevistador... e rigorosamente são interditas a tudo o que entre noutros domínios a que o público deve ser estranho.
- Quanto ao Teixeira Gomes, o senhor sabe, como toda a gente, do manifesto ao povo inglês, não é verdade? Então isto é um diplomata , meu caro?
(Após a implantação da República, exerce o cargo de ministro plenipotenciário de Portugal em Inglaterra. Em 11 de Outubro de 1911 apresenta as suas credenciais ao rei Jorge V do Reino Unido, em Londres, cidade onde então se encontrava a família real portuguesa no exílio.Eleito presidente da república a 6 de Agosto de 1923, viria a demitir-se das suas funções a 11 de Dezembro de 1925, num contexto de grande perturbação política e social. A sua vontade em dedicar-se exclusivamente à obra literária, foi a sua justificação oficial para a renúncia.)
E vão pela mesma o Sidónio das matemáticas, que fez lá questão com o imperador Guilherme por causa do jantar que não comeu, e o Eusébio Leão, que os colegas de lá acusam de ter hóspedes na legação. Isto é uma vergonha, meu amigo. Quanto ao Alves da Veiga... Nem falar nisso! Salva-se um, meu caro; é o Bernardino, pode crer. E é então por essa gente que nós temos de ser defendidos? Podem chamar-me o que quiserem mas o meu projecto salvava estas misérias. Desde 72 que eu andava pregando a abolição do corpo diplomático...
— E que impressão guarda da atitude da sua câmara no momento em que, na sua ausência, o sr. Brito Camacho lhe fazia as referências que conhece já?
— Ah! meu amigo, eu resolvi não falar mais na câmara desde que se discutiu a Constituição, e alguém, sabendo que eu ainda estava para falar, propôs um abafarete, para me calarem a boca. A câmara, ouvindo e calando o que contra mim se disse, foi coerente, meu caro, assim como quando morreu minha mulher — e todos os meus amigos se me dirigiram — se esqueceu de me enviar condolências.
(Brito Camacho, para além de um dos principais mentores da propaganda anti-monarquica atravéz do Jornal "A LUCTA", do qual era director,foi ministro do Fomento e dirigente do Partido Unionista que fundou. Também foi Alto Comissário da República em Moçambique de 1921 a 1923.)
«— E se publicasse (a história) de tudo isto deixava muita gente na grilheta.
Receio não ter ouvido bem! objectámos surpresos.
— Ponha lá isto assim mesmo. Cá tenho as minhas razões. O que eu poderia contar! Mas não quero, não quero; adeus, meu querido amigo...
(Entrevista publicada no "DIA" de 2 de Abril de 1913)»
fonte:
"Teófilo Braga e os republicanos" Org. Carlos Consiglieri, Vega edições
1 comentário:
O Leão com casa de hóspedes na çegação fez-me ternura, o que é que querem?
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