- Pai, quem é a República? Ainda atordoado respondi-lhe - Vá estudar a tabuada. E lá foi, anunciando-me pelo corredor fora que "ela" fazia cem anos.
No screen em frente, desenrolava-se mais um programa empenhado em fazer crer ao povo as virtudes do regime, forçando a celebração da data, quando ninguém lhe presta atenção. Pensei: melhor resultado teriam e com gastos significativamente inferiores se, para assinalar a efeméride, organizassem uma sardinhada geral "à borla" na Quinta da Atalaya. Mas, de facto, ninguém está comovido com o evento. Portugal celebra-o com o mesmo entusiasmo com que festejaríamos a obtenção da medalha de bronze no campeonato do Mundo de danças rurais.
E ali estava eu, já divertido comigo mesmo, quando o meu filho regressou atestando que já tinha o trabalho realizado.
- É um regime democrático que se impôs pela força. É uma forma de organização de governo de uma sociedade que, em Portugal, para se implantar, precisou de assassinar o Rei.
- É um ícone da democracia cujo texto da Constituição pelo qual se rege (perdão meu filho mas "reger" não é termo que se aceite - "orienta" já se coaduna) impede que o povo sobre ele se pronuncie.
- Uma democracia ditatorial que se fecha na masmorra protectora das suas "sagradas" escrituras, mas que vão sendo alteradas pela pena de um pouco mais de meia dúzia de imberbes.
- É um sistema que, pela alternância do seu líder e defensor, se procura desresponsabilizar.
O meu filho tinha já estampado no rosto o semblante revelador de um medo infantil, mas mesmo assim continuei:
- Assim, mudaram a bandeira de Portugal, pediram ao filho de um alfaiate alemão que lhes fizesse um hino que evoca os Heróis do Mar do tempo da monarquia e, logo depois, desataram todos à estalada.
- Por último, e como prova de falta de imaginação, foi copiar aos franceses o seu símbolo, embora a francesa seja muito mais sensual.
- Percebeste meu filho?
- Sim pai. Bem me parecia que era uma mulher que faz cem anos.
Levantou-se e continuou a fitar-me como desde o início da minha explicação. Seguiu pelo corredor, entrou na cozinha e ouvi-o:
27/09/10
António Aranha