terça-feira, 1 de junho de 2010

Juan Carlos de Espanha, visto por Maria Filomena Mónica


É sempre agradável a leitura de Maria Filomena Mónica, concorde-se ou não com os seus pontos de vista. A sua atenção e a sua imaginação suscitam permanentemente apreciações curiosas, e a sua independência permite a certeza de que acredita no que escreve. No seu recente «Vidas» (ed. Aletheia), conta-nos que viu o Rei de Espanha, pela primeira vez, em Cascais, em 1956. Achou-o «feio, estúpido e antipático». E seguiu en frente, até porque a sua família «nunca discutira a questão de regime, de forma que nem sequer sabia se, lá em casa, éramos monárquicos ou republicanos».

Não passou em claro o percurso de Juan Carlos pelas academias militares espanholas, nem a tensão existente entre o futuro Rei e o seu Pai, o Conde de Barcelona, mais «liberal».

Depois da morte de Franco, as Cortes proclamara Rei o já então «herdeiro da Coroa». Logo em 1981 foi a invasão da Câmara dos Deputados pelo Ten.-Coronel Tejero de Molina ("Al suelo, al suelo" e a adesão que lhe manifestou o Gen. Milan del Bosh.

«De madrugada, envergando o uniforme de capitão-general dos Exércitos, o Rei apareceu na televisão, apelando a que os insurrectos se rendessem, o que viria a acontecer». E conclui: «A forma como a Espanha passou de uma ditadura, nascida de uma guerra civil, para a democracia é um milagre. Em grande medida isso deve-se à actuação de um rei corajoso».

Há muito que ler, nestas memórias escritas de modo despretensioso, só para entreter. Desde logo, esta referência à passagem da ditadura para a democracia. Como às vezes nos esquecemos, coroada.

3 comentários:

O Faroleiro disse...

Eu respeito a figura do Rei de Espanha, é uma tarefa difícil a dele a tarefa de passar a esponja pelos crimes do anarco-comunismo e da falange de forma a unir o que parecia impossível em 1975 !

Se por um lado foi com a coroa que se evitou a 2ª guerra civil de Espanha, por outro muita gente continua a tratar por senhor ao assassino dos seus pais e avós à conta dessa mesma esponja.

É uma realidade difícil de engolir, tem uma lógica prática a monarquia Espanhola e estou convencido que um dia virá em que os Espanhóis poderão falar sem complexos dos massacres da guerra civil de Espanha sem se matarem uns aos outros como consequência...

O vento esfumou o cheiro a carne humana assada nas margens do Ebro, o tempo julgou os crimes de Hitler e Estaline mas a visão gótica do Vale dos Caídos é uma coisa que me teima em assombrar e a "coisa" lá continua, um símbolo negro de culto construído sobre as ossadas dos que tombaram.

O tempo passa mas a memória persiste; difícil tarefa a deste Rei.

João Amorim disse...

caro "bicho"

Pois bem, não duvide que é essa mesma memória que persiste também em Portugal. E não duvide que muitos fazem tudo para que ela seja apagada; enuncio apenas o regicídio" e o terrorismo republicano, as perseguições e a tortura. Por isso falam tanto do Salazar... sabe porquê? Porque contra ele está o país cheio de "heróis"... ...

João Afonso Machado disse...

Caro Nuno:

Pegando nas suas palavras, pense também que há 100 anos houve muitos portugueses que fieis ao seu ideal monárquico sofreram vexames, perseguições, o ostracismo, enfim.
E, quer queira, quer não, a Monarquia não tratou assim os republicanos. Deu-lhes total liberdade de expressão e a possibilidade de se organizarem em partido, nunca clandestino, de concorrerem ás eleições, eleger deputados, deter a presidência da Câmara de Lisboa... insultar o rei, sugerir em pleno Parlamento a sua guilhotinagem, etc, etc.
Em suma, a Monarquia era democrática. A República, não. Ainda agora, de certa forma, na medida em que deturpa a história e desinforma.
(Coisa diferente é o policiamento exercido sobre os bombistas da carbonária, claro. Mas só por causa das bombas...).

Para além da democracia formal existe a EDUCAÇÃO. Aquilo que verdadeiramente nos leva a aceitar opiniões diferentes das nossas. Algo muito raro nestes 100 anos. Algo que marca a diferença entre um alegado ditador, como Sidónio, e o proclamadissimo democrata Afonso Costa (e Cª Lda.)