quarta-feira, 2 de junho de 2010

Eleições presidenciais na 2ª República


Em 1947, o País vive momentos de expectativa com as PRESIDENCIAIS. Porque «só relutantemente se vai para a recandidatura do velho marechal Carmona (...) já sem vigor fisico para razer uma campanha eleitoral que promete ser movimentada, face ao último assomo das hostes oposicionistas, que apresentam o general Norton de Matos ao sufrágio.
Mas não surgiria alternativa aceitável perante a recusa de Salazar em se candidatar, a despeito da pressão conservadora e dos reformistas (...).
A União Nacional faz uma campanha agressiva através de comícios e da imprensa (...): explora a fundo o carácter subversivo e "antinacional" da participação dos comunistas na candidatura de Norton de Matos, o perfil maçónico do candidato e o cariz anti-clerical e alegadamente anticatólico dos seus apoiantes (...). mostra capacidade de mobilização e resposta face às grandes concentrações de massa que a candidatura de Norton de Matos consegue levar a cabo, especialmente nos arredores do Porto.»
(vd. «História de Portugal», direcção de José Mattoso, vol. 7º, pág. 407)

11 comentários:

Francisco RB disse...

Pois caro amigo, mas foi por perceber que era apoiado por comunistas que o Norton de Matos desistiu da candidatura, um caso de excesso de escrupuloso de alguém que não seria, sequer, um puro oposicionista, como Humberto Delgado.

João Afonso Machado disse...

Caro Amigo: Norton de Matos não queria nada com os comunistas, mas também desistiu porque percebeu que não tinha hipóteses, porque a batotice eleitoral seria (e foi) grande.
Mas houve uma interessante campanha pré-desistência, com os da situação a acusarem NM de grão-mestre maçõnico e a Oposição ripostandodizendo que Carmona não era grão-mestre da Maçonaria, mas gostaria de ter sido.
Tudo isto envolvia cartazes de parede já com fotos deles e o aventalzinho en su sitio.

Francisco RB disse...

Caro amigo, como sabe o Carmona na altura tinha uma grande força política, tal como Salazar, eram vistos como salvadores da Pátria da II Guerra Mundial, só na década de 60 a opinião pública começou a mudar.
O Gen. Norton de Matos teria perdido as eleições, embora conseguisse alguns bons resultados, diferente foi o caso do Gen. Humberto Delgado que teve o voto de membros da U.N. e da Legião.

O Faroleiro disse...

João Afonso, você a defender o Norton de Matos ?

Não foi esse que estava à frente do MUD ?

O MUD não era aquela salada de grelos que tinha anarquistas, comunistas e até os integralistas lusitanos do Rolão Preto ?

Não foi esse Norton de Matos que serviu D Carlos e depois foi servir os "democraticos de pêra e bigode", só o Sidónio lhe mandou um chuto no respectivo ?

Estou de acordo com o Francisco, o Salazar esteve bem, aliás Portugal foi vetado na ONU nesse tempo pelos soviéticos por ser "fascista", aliás, os Soviéticos tentaram entrar aqui através do MUD.

Mas diga lá qual é o livro que conta o outro lado da história, aproveito que está a feira do livro no Porto e com os tostões que poupar ainda lhe pago um copo no Majestic!

Um abraço !

João Afonso Machado disse...

Caro Francisco: viu o que ficou escrito. Conservadores e reformistas achavam o Carmona já velho e queriam Salazar como PR. Especialmente Marcello, que chefiava a ala reformista e assim via uma possibilidade de ir para a Presidência do Conselho. Por isso insistiram com Salazar. mas este também gostava desse lugar, à frente do Governo.

João Afonso Machado disse...

Caro Nuno:
Não defendi NMatos. Nem por sombras. aliás, é-me uma figura desagradável, porque minhoto e afonsista. Ora na minha terra, isso não.
Limitei-me a constatar factos: NMatos candidato da Oposição, desistiu - sabia que ia perder porque sabido é que as eleições eram aldrabadas. O que é uma honrosa tradição nacional - aldrabar eleições (até em Monarquia, volta e meia lá ia uma cartolada...).
O Francisco tem razão num aspecto: NMatos era anti-comunista. Tal qual o Carmona, obviamente. E que fique claro: prefiro este àquele.
Quanto a Rolão Preto e integralistas: no MUD, com a esquerda socialista e m-l? Creio que não e vou averiguar.
Aproveito, a esse propósito que uma geração mais nova - a de Ribeiro Teles, Sousa Tavares, João Camossa - fundou a Convergência Monárquica, oposicionista à II Republica e cooperante com CDE. Daí derivou o PPM, após 25ABR.

O Faroleiro disse...

Caro João, bebo na fonte dos seus :

"Após a segunda Grande Guerra, Rolão Preto veio a retomar intervenção política através do apoio ao Movimento de Unidade Democrática (MUD). Tomou parte no comité de candidatura à presidência da República do Almirante Quintão Meireles e, nas eleições de 1958, com Almeida Braga e Vieira de Almeida, integrou também a candidatura do General Humberto Delgado, assumindo a chefia dos Serviços de Imprensa, escrevendo vários discursos da Candidatura e parte do respectivo Programa Político (ver José Manuel A. Quintas,Os monárquicos e as eleições de 58)."

Fonte :http://www.angelfire.com/pq/unica/il_frp_francisco_rolao_preto.htm

Pelos vistos as pessoas do site fazem parte do movimento integralista lusitano actual; um abraço

João Afonso Machado disse...

Caro Nuno:
Prá semana, com 10JUN, ainda vamos a um copo. Sobre Rolão Preto e o resto. Deixo-lhe aqui um apontamento tirado à pressa do Dicionário de Personalidades (H. Portugal) do Hermano Saraiva.
Rolão Preto, monárquico abandonou o Pais com a implantação da Republica.De volta a Portugal fez parte da Junta Central do I. Lusitano. Chefiou a corrente nacional-sindicalista, movimento que já com muitos adeptos foi dissolvido por Salazar (à parte meu: os camisas azuis, de inspiração... mussoliniana) em 1954. Exilado então em Espanha regressou no ambito de uma revolução para derrubar o governo, sem sucesso.
Lembro-me dele, pois morreu em 1977. Mas não o encaixo nesses apoios a candidatos a presidentes, até por causa do exílio. Vou ver mais (e o seu link também).
De qualquer modo, o nacional-sindicalismo já era uma dissidência do Integralismo, isso é certo.
Almeida Braga: teve realmente um final de vida complicado, do ponto de vista político. Raiva e frustração acumulada. Aconteceu com alguns outros integralistas (Monsaraz, H. Raposo).

O Faroleiro disse...

A data do regresso é vaga, falam de depois de 45 quando acabou a guerra, vivia ele em casa do Primo de Rivera e já naquele tempo apoiava a falange, o que o distancia muito do anarquismo e do comunismo.

O MUD poderá ter sido uma forma de afrontar o Salazarismo como única alternativa organizada, o sitio da Internet que lhe indiquei é muito vasto, cheio de bibliografia, certamente que terá interesse.

Quanto ao copo, mande um mail que a gente combina, durante um mês tenho os sogros em Esmoriz porque têm a casa em obras, por isso ando por Gaia.

Abraço

João Afonso Machado disse...

Tem razão. Veja:


De volta a Portugal junta-se à MUD - Movimento de Unidade Democrática -, criado no Outono de 1945 para participar nas eleições de Novembro seguinte, as primeiras eleições do Estado Novo, onde se admitiram listas alternativas, tendo nesse ano publicado o seu livro A Traição Burguesa.

Mais tarde apoiou as candidaturas de Quintão Meireles, para Presidente da República de 1951, discursando na única sessão política da campanha. Em 1958 apoiará Humberto Delgado (o candidato opositor), participando activamente na campanha eleitoral, sendo responsável pelos serviços de imprensa da candidatura.

Em 1970, com outras personalidades monárquicas, constitui a Biblioteca do Pensamento Político, Convergência Monárquica, organização a favor da monarquia que tenta reunir o Movimento Popular Monárquico chefiado por Gonçalo Ribeiro Teles, uma fraccção da Liga Popular Monárquica de João Vaz de Serra e Moura e a Renovação Portuguesa de Henrique Barrilaro Ruas.

Nas eleições de 1969, as primeiras eleições durante o período de governo de Marcelo Caetano, participa na lista da Comissão Eleitoral Monárquica.

Após o golpe militar de 25 de Abril de 1974 assume a Presidência do Directório e do Congresso do Partido Popular Monárquico (PPM), fundado em 23 de Maio.

Fonte Wikipedia.
V. qualquer dia põe-me a deixar o papel e buscar estas soluções rápidas por sistema.

A conclusão é só uma: a 2ª Republica não foi uma miragem e R. Preto não gostava mesmo nada de Salazar.

Filipa V. Jardim disse...

João Afonso,

Com ou sem papel, debate interessantissimo. Parabéns! Extensivo, evidentemente, ao Nuno e ao Francisco.
Conhecia alguns dos factos. ignorava outros, que remetem para pesquisa mais aprofundada.
Um bom exemplo de como se pode fazer um blog. E, para que serve um blog como este.