O que é o dia de Portugal? Na televisão uns paineleiros tentavam explicar. Na rua uns entrevistadores tentavam levar-nos a "perceber" com uma série de entrevistas próprias de programas de humor. Uma apresentadora dava-nos com o Eduardo Lourenço a dizer que "éramos" um povo orgânico. Em Faro, no dia 10 de Junho – que se convencionou ser o "Dia de Portugal" sem o famigerado e nojento adjectivo de "República" colado – Portugal explicava-se com a parada militar. Aí. Por breves momentos o povo em casa e na praça não precisou de explicações. Sentiu. O desfile das nossas forças armadas carrega a paralela descrição dos valores pátrios, da abegnação, do altruísmo, eleva e actualiza a nossa memória – a nossa história – e devolve-nos o heroísmo da partida – morte – pela mais nobre das causas: o sacrifício (também esse que hoje tanto nos pedem!). Por isso é bom o povo ver a parada neste dia. Não só pelos rapazes-homens que desfilam mas pela rusticidade e ascese moral que nos incute. Chorei quando ouvi os páraquedistas cantar os cânticos que se entoavam na base de Tancos, quando lá estive em 1986: Ó Pátria Mãe/ Por ti dou a vida/ Há sempre alguém/ Que não te quer perdida.
Por fim o desfile dos veteranos de guerra. Por fim. Ver os veteranos a marchar como se estivessem em serviço pelo país (será que alguma vez deixaram de estar?) foi uma bofetada assente na camarilha complexada (deve ser dos ideais republicanos) que tem votado ao desprezo as vidas dos antigos combatentes em prol da conveniência e censura ideológica. Por mais que os releguem serão sempre Heróis da nossa Pátria.
4 comentários:
Caro João.
Subscrevo totalmente excepto na parte dos republicanos, pois foi o republicano e presidente Cavaco Silva que tornou possível corrigir essa grande injustiça que sempre foi a omissão dos ex combatentes nos assuntos da pátria.
Eles deixaram por ela o sangue e por isso devem ser homenageados.
caro Bicho
Algum dia teria de ser, é o excesso de vergonha. Não creio que tenha sido uma imposição isolada do presidente.
Será que podiam explicar-me, como se tivesse 5 anos, porque razão o dia de Portugal é o 10 de Junho e não o 1º de Dezembro?
Isto é um país de poetas mortos!
E João, concordo com o que disse o "bicho", acrescentando: cuidado com os ataques de monarquite (tb há outra patologia igualmente grave denominada republicanite). Há coisas em que basta ser português para ver.
Caro Jerónimo:
Deu-me um ataque de monarquite a esta hora da noite...
O 1º Dezembro relaciona-se com a restauração da independência e início da Dinastia de Bragança. Creio que é comemorado de longa data, por isso.
O 10 de junho, como feriado principiou a ser comemorado em 1924 e foi ofcialmente consagrado já na 2ª República, como dia de Portugal, de Camões e da Raça. Exaltação patriótica à sombra da data de nescimento do grande Épico.
A 3ª República substituiu a «Raça» (politicamente muito demodée) pelas «Comunidades». Uma pequena mudança ao estilo daquela que Hergé teve de fazer no texto de «Tintim no Congo».
No fundo, ficamos a ganhar, todos nós, com mais um dia sem trabalhar.
Mas o grande feriado nacional devia ser o 12 de Junho. A explicação fica para para outro momento mais oportuno. Os lisboetas gostavam porque somavam esse ao seu Santo António.
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