sexta-feira, 19 de março de 2010

FRANQUISMO - UMA "DITADURA" SEM CENSURA

«O que em Portugal se tem feito em matéria de censura teatral daria um volume humorístico de 300 páginas, e de tantas porque até quadras e actos inteiros do melhor espírito e da mais absoluta moral têm sido impiedosamente eliminados.
A nota política nas revistas é um pratinho predilecto do público. O conselheiro João Franco, a propósito da célebre revista Ó da Guarda! - chegou a dizer aos magnatas: - "Deixem-nos governar a vida, conquanto não insultem o Rei, nem me chamem ladrão". E o liberal-ditador foi, se pode dizer, o triunfo da feliz peça durante um ano, como o foram em recuados tempos, em peças de igual jaez, o Marquês de Valadas, Fontes Pereira de Melo, José Luciano...».

in Carlos Leal, Água Forte (Memórias), Liv. Popular, 1941, pág. 117.

12 comentários:

Francisco RB disse...

Caro amigo desta vez descordamos plenamente, pois o encerramento do parlamento durante o franquismo foi inaceitável e fundamentou muito do apoio dado aos republicanos, para além da consequência trágica para a família real, é o franquismo que leva ao regicídio.
D. Carlos referiu inclusive, "isto ou acaba numa morte ou numa revolução", infelizmente teve razão em ambos os casos.

João Afonso Machado disse...

Caro Francisco:
Percbo que o Amigo não goste do franquismo. É im parlamentarista convicto e, por isso, a governação «por decreto» está comletamente fora do seu horizonte.
Mas repare: a única intenção deste post é realçar que, não obstante «ditador», J. Franco não exercia censura.
E o meu Amigo sabe que, nesse período, os jornais da Oposição monárquica escreviam o que lhes apetecia, os republicanos também e até um simples actor de teatro (que escreveu as Memórias de onde extrai o texto) afirma que J. Franco se ria das criticas na revista e só queria que não lhe chamassem «ladrão»
Nenhum de nós também gostaria de ser assim chamado... É o mínimo

Anónimo disse...

Uma ditadura sem censura é algo que ninguém viu. Ou Franco não era ditador, ou os jornais não eram livres. Agora escolham.
M Figueira

Francisco RB disse...

Eu sei dessa questão dos jornais, era efectivamente comum na história portuguesa serem publicadas revistas, jornais ou folhetins com críticas, mesmo em período de absolutismo monárquico e não havia uma ideia de perseguição aos seus autores (talvez com a excepção de Pina Manique), tal aconteceu inclusive em plena guerra civil, em que surgiam panfletos contra e a favor de D. Miguel.
A censura surge efectivamente já só com a ditadura, em particular com o triunfo da Constituição de 33, com o seu famoso art. de limitação das liberdades.
O problema claro está é se João Franco não tivesse chegado ao poder teria havido regicídio e república, penso que não. D. Manuel II já chegou foi tarde para remediar a situação.

João Afonso Machado disse...

Caro Francisco:

Dou-lhe razão. Mas lembro, também, que D. Carlos recusou viajar em carruagem fechada. É claro, o atentado poderia não ser nessa altura, mas noutra qualquer.
Fica sobretudo esta certeza: para implantar a República era preciso matar D. Carlos.

João Afonso Machado disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
João Afonso Machado disse...

Peço desculpa pelo lapso. Mas queria ainda lembrar que a Rainha D. Amélia suscitou também a questão da carruagem fechada. Criticou severamente J. Franco elo atentado subsequente

Filipa V. Jardim disse...

João Afonso,

O Senhor Dom Carlos tanto quanto sei, exigiu ele próprio uma carruagem aberta. Era um homem de dar a cara e deu-a numa altura específica e complicada.Estaria certamente preparado para qualquer confronto "cara a cara". Não o estava para ser assassinado, pelas costas.

Nuno Castelo-Branco disse...

Fico irritado sempre que leio ou ouço parvoíces acerca do rei D. Carlos. Gostava bastante de ver como reagiriam os nossos valentões da "praça da república", se escutassem uns tiros de pólvora seca. Encafifavam-se logo debaixo dos bancos da limusina.

NRC disse...

Um jornal republicano (O Mundo de 24 de Março de 1915) diz a respeito da ditadura do conselheiro João Franco: “Tendo tomado uma feição revolucionária e tendo sido violentamente combatido, não demitiu um só funcionário do Estado que exercesse lugar vitalício. Muitos dos seus mais intransigentes adversários, monárquicos e republicanos, eram funcionários públicos, mas nenhum foi por esse motivo destituído”.
Isto é perfeitamente exacto e eu posso confirmá-lo como testemunha presencial,por ter tido a meu cargo durante aquela época a administração da Instrução Pública, que era uma das mais importantes e das mais minadas pela oposição revolucionária. Mas convém acrescentar a esta verdade outras não menos dignas da atenção dos filósofos e do registo da História.
Convém lembrar que a ditadura franquista, assim como não tirou a ninguém o seu lugar vitalício, e apesar do regime de arruaça permanente que os seus inimigos lhe criaram na rua, também foi branda e cuidadosa na repressão da desordem. Dos repetidos choques entre a polícia e os manifestantes resultaram, em oito meses, apenas uma ou duas mortes, o que se não compara com a simples chacina de S. Domingos, nos tempos ultraparlamentares do Sr. Ferreira do Amaral, e com o regime de homicídio político frequente que nos tem fornecido a República.
Convém dizer que a ditadura franquista só atacou a liberdade corporal dos seus inimigos, quando estes resolveram opor-lhe a Revolução armada, flagrante e patente, embora só mais tarde confessada e glorificada.
Em 28 de Janeiro de 1908 foram presos uma dúzia de caudilhos; mas todos eles reconheceram logo a seguir, e agradeceram, a bondade e humanidade dos seus carcereiros. Só depois de 5 de Outubro, instaurado o regime dito”verdadeiramente nacional e democrático”, é que se viu a grande emigração política, e o capuz penitenciário vestido aos réus de crimes de consciência, e os presos por conspiração cuspidos, chibatados e esbofeteados nas ruas do trânsito.
A ditadura franquista suprimiu jornais, mas nunca mandou suprimir redacções, nem tipografias. Só depois de raiar a Liberdade é que naturalmente se permitiu a cólera cívica assaltar as oficinas da Imprensa que não agradava ao Governo e roubarem-lhe os assaltantes a mobília e os haveres, para os irem vender civicamente, e civicamente meterem o dinheiro no bolso.
Estes contrastes são duros e pesados, e não admira que o sejam. São as primeiras pedras com que se há de construir um dia a inevitável estátua de D. Carlos I.Março de 1915

Continua a haver muita desinformação sobre Franco/D.Carlos. Recomendo a leitura do DOSSIER REGICÍDIO-O Processo Desaparecido.

Voz Nortenha! disse...

Sou cada vez mais apologista da censura, pois como o Doutor Professor António de Oliveira Salazar referiu a comunicação social é "um parasita da sociedade". E além do mais continua a haver crimes de liberdade de expressão, anda toda a gente a processar toda a gente. Nesse sentido, se calhar era melhor que não se difamasse, ou seja, tal artigo não saía, pura e simplesmente. É o que se faz nos outros crimes, para isso é que existe uma PSP. Não se espera que uma pessoa vá matar outra, podendo evitar, evita-se. E é necessário e nobre de referir que não é só em ditaduras que ocorre a censura pois nas democracias isso também existe... Vejamos o que ocorre hoje em dia na Nossa Nação..

Anónimo disse...

Cara voz nortenha
Tente ser realista. A censura foi instaurada na 1ªRepública. Salazar apenas refinou os seus mecanismos e a opinião desse senhor professor doutor por nomeação da Universidade de Coimbra (Sem prestar provas) apenas vai ao encontro de Afonso Costa e de toda a falasidade que foi a 1ªRepública. As opiniões de Salazar são consequêcia da mentira do 5 de Outubro de 1910. Uma sociedade livre e construtiva têm de assentar numa liberdade responsável. E isso não implica censura imposta. E mais uma nota: Quem ganhou com a 1ªRepública foram aqueles que meteram Salazar no governo