quarta-feira, 17 de março de 2010

Bernardino Machado - Retrato de um Rei feito por um Presidente

«Raras vezes tão preciosos dons pessoais esmaltaram a coroa, como hoje em Portugal. O rei dá o exemplo de estudo, de gosto pelos prazeres intelectuais, naturalista e pintor apreciável, e até o exemplo do enrijamento físico que nos não é menos necessário. Quase todos têm de aprender com ele a amar por igual os exercícios do espírito e do corpo, e a assim preparar-se cabalmente, por de uns e de outros, a bem servir a Nação. Modesto no trato íntimo, a sua palavra tem vibração, sonoridade e calor no meio das assembleias solenes. Não fraquejando nunca nas situações difíceis, a sua coragem é simpática».


(Bernardino Machado, «Notas de um pai», in Instituto, Coimbra, 1901, nº 4)

27 comentários:

MSC disse...

O Bernardino é um digno antecessor dos nossos actuais politicos

Pedro de Souza-Cardoso disse...

Realmente MSC tem razão.. Antigo Ministro das Obras Públicas, Comércio e Indústria (1893)do Reino, Bernardino vem mais tarde tornar-se um dos principais dirigentes da maçonaria portuguesa. O modo como certas pessoas moldam as suas crenças conforme as suas proprias conveniencias esta tao patente no inicio da republica como esta um seculo depois.

Francisco RB disse...

O Dr. Bernardino, Par do Reino e Minsitro da Monarquia, que se bandeou para o lado republicano com o regicídio, é paradigmático do nosso Portugal, muito em 6 de Outubro de 1910 vieram para os jornais declarar que foram sempre republicanos e a declararem o seu papel no 5 de Out., outros em 29 de Maio de 1926 vieram declarar ser contra o partido democrático e a república velha, outros ainda em 26 de abrild e 1974 vieram declara rnão terem nada com o regime "fascista", só em 26 de Novembro não houve ninguém a declarar que não tinha nada com a Revolução Comunista!
Muitos estãos emrpe do lado dos vencedores, na monarquia foi assim. Um dos relatos mais tristes de D. Maunel II é dos seus colaboradores que logo a 5 de Out. vieram jurar obediência ao novo regime.

João Afonso Machado disse...

Bernardino conseguiu a proeza de ser Par do Reino e Presidente da República.
Há uma história que se conta, e se calhar é verdadeira:
Uma vez um pobre rapaz apareceu junto de Bernardino, solicitando-lhe um «empenho» para um emprego.
Bernardino olhou-o e respondeu-lhe que ele precisava de outra apresentação, roupa menos maltrapilha, para conseguir o que queria. Que voltasse melhor vestido.
O rapaz aplicou-se, empenhou-se, arranjou dinheiro e lá conseguiu comprar um fatito novo.
Volveu então a Bernardino. Resposta deste, quando o viu:
- Tu assim com um ar tão próspero, decerto não precisas da minha ajuda para encontrar emprego...

Filipa V. Jardim disse...

João Afonso,

Interessante seria igualmente, saber qual o retrato do Presidente, feito pelo Rei.

E qual o retrato deste Centenário, feito pelos Portugueses. Pelo menos, pelos que por aqui vão "blogando"...

Nuno Castelo-Branco disse...

O texto do Bernardino, aplica-se inversamente ao mesmo. Aquilo que em D. Carlos eram qualidades, com Bernardino passava-se precisamente o oposto. Um traste da pior espécie (ler os Diários de João Chagas, bem elucidativos).

Filipa V. Jardim disse...

Nuno Castelo Branco,

Agora falta saber a segunda parte, que me parece a mais relevante: qual é afinal o retrato que os Portugueses (hoje) fazem deste centenário e desta república? Mas para isso os portugueses têm que dizer de sua justiça e têm que fazer ouvir a sua voz.
Não basta informarmo-nos. Se bem que a informção é sempre importante.E, espaços como este contribuem para a informação.
Mas mais importante do que contribuirem pra a informação, dão voz...

C. Mexia disse...

Filipa,

Concordo consigo, o problema é que o povo português foi desabituado de pensar e, como tal, é-lhe absolutamente indiferente a comemoração do que quer que seja!
Vimos, desde há um século, a sofrer uma lenta, metódica e muito bem sucedida lavagem cerebral relativamente à ideia de monarquia.
As pessoas, de um modo geral muito pouco e mal informadas, consideram o regime monárquico como um governo exercido por elites vestidas com saias de balão e camisas de folhos que passam os dias numa bem-aventurada brandura em beija-mãos reais e vénias aos pés do trono! Que lhes importa a comemoração do fim de um regime que consideram obsoleto?

Para os "happy few" que têm o espirito aberto:
Que grande homem foi o nosso Rei D. Carlos!
No dealbar do sec. XX um verdadeiro Homem da Renanscença na universalidade dos seus interesses e da sua cultura...

João Afonso Machado disse...

Filipa:
Bernardino rinha 2 caras e falava muito, tentando agradar a quem quer. Por isso é mais fácil encontrar alusões suas ao Rei do que o contrário.
Elogiou largamente D. Carlos, enquanto foi momárquico, dando sempre relevo à sua isenção.
Mesmo após o Regicídio, D. Manuel não o excluiu dos encontros que tinha com grandes personalidades políticas.
É difícil descobrir nos textos de D. Carlos qualquer maldicência dirigida em particular aos politicos seus contemporâneos - ainda que republicanos. O Rei criticava «em abstracto».
Procurarei, e, se encontrar, darei nota aqui no blog.
Para já fica o comentário de vasco Pulido Valente, no seu prefácio às «Memórias da Condessa de Mangualde», sobre Bernanrdino, frisando a sua «típica falta de caracter».

João Afonso Machado disse...

C. Mexia:
Tem toda a razão! Pessoalmente, não pretendo catequizar ninguém. Mas, fiel às minhas convicções também não me apetece ficar calado quando vejo «afogar» em maldicência gente tão dedicada a Portugal como foram os Reis.
E ainda são. Sempre desinteressadamente.
Cumprimentos

Francisco BR disse...

De facto,
Um denominador comum sobre Bernardino era mesmo a falta de carácter, mesmo muitos republicanos nafastavam-se dele, por exemplo António José de Almeida.

Filipa V. Jardim disse...

João Afonso,

Mesmo sem estar da posse de todos os elementos, calculei que o Rei pouco se deveria ter expressado em relação ao Bernardino. Por várias razões: Primeiro porque por definição e educação, seria dado a alguma reserva, segundo, porque não precisava disso.
E o Bernardino precisava do Rei?
É que se não precisava, naturalmente, não se daria ao trabalho, digo eu...

João Afonso Machado disse...

Filipa;
Bernardino precisava do Rei enquanto precisou.
(Até foi Barão de Joane...)
Depois auguriou a República e precaveio-se. Transfigurou-se republicano sete anos antes do 5/OUT.
Façamos-lhe as honras: era um homem inteligente...

Filipa V. Jardim disse...

C. Mexia,

Tem toda a razão.
Eu comecei por prestar atenção a este tema há muitos anos, com o saudoso Dr. Barrilaro Ruas. Nessa altura estávamos em desacordo: ele não queria entrar para a Europa e eu queria.
Depois voltei a contactar com o tema porque vivi numa monarquia.
Deparo-me, neste momento, por essa blogosfera, pelo facebook, pelas múltiplas actividades do Senhor Dom Duarte,com um crescendo de interesse por parte das pessoas.
Tudo muito longe dos folhos bolorentos.
Muito mais parecido com o que eu vivi, de facto, numa monarquia.
É isso que é interessante:essa abertura espontanea das pessoas e a correspondente resposta de proximidade.

João Afonso Machado disse...

Filipa:

Temos tempo de demonstrar a verdade: Bernardino precisou do Rei e de todos os mais que, no momento e no modo adequado, serviram à sua promoção e ao seu «carreirismo». Até aquele humilde rapaz, que atrás referi, sem fato novo e sem compostura...

Anónimo disse...

O gravissimo problema é a apatia da opinião comum em mexer uma palha para fazer o que quer que fosse. Nos dias de hoje é completamente inadmissivel que as pessoas continuem a aceitar ser postas de parte na acção social e política. E as chamadas elites pensantes estão mais ao favor de ideologias do momento que garantam perrogativas. Quando o 5 de Outubro sucedeu-se nem 100 anos tinham passado da "revolução liberal". Ainda predominava uma mentalidade tipicamente conservadora em que alguns dignatários, com a benção divina, exercem o poder para o bem geral.
Mas deixemos a história e relato esta simples conversa a hora do almoço entre três pessoas: O transmontano não precisa do lisboeta. Lisboa só precisa de Trás os Montes para sacar-lhe impostos.
Uma conversa que revela da facilidade de como Salazar impôs-se no poder e o seu legado perdura. A indiferença, o encolher de ombros, o ser responsabilidade dos outros é talvez o problema de raiz. É um problema histórico-cultural. Mais do que organizações secretas ou a igreja. Mas esperar que os Portugueses mudem e acordem? Se não for projectos como este podemos esperar mais 100 e 100 e 100.

Nuno Castelo-Branco disse...

Filipa, não tenha ilusões. O povo português está-se completamente nas tintas para a república. Participará na festa, se houver a opoetunidade para uns concertos pimba - e chique-pimba do Veloso, Abrunhsa, etc -, especialmente se forem de graça. Mais umas patuscadas de feira e está feita a coisa, com os belenenses parolos do costume. Os que lá estão e os que lá estiveram. Cada vez desprezo mais essa gente. Todos num Airbus em direcção às Caimão e sem documentação portuguesa. Que se desenrasquem, passe a expressão. É que hoje estou um bocado irritado :)

Pedro de Souza-Cardoso disse...

Concordo plenamente com o Nuno Castelo-Branco.

O povo portugês está completamente instalado. Já ninguem se preocupa com grande coisa, adorando sentar-se num café dizendo que o país vai muito mal, mas sem qualquer tipo de intenção de fazer algo para realmente mudar a situação em que a Republica colocou Portugal em apenas 100 anos.

Hoje ninguém tem paixão por ideais. A politica é para os politicos, no pensamento do portugues comum. Ninguem se levanta. Ninguem se revolta. Ninguem diz basta.

Caso paradigmatico é que o expoente da participaçao da sociedade na vida politica - o sufragio universal - apresenta em Portugal o valor mais elevado de toda a Europa e um dos maiores valores em todo o mundo.

O portugues quer viver a sua vida sem grandes chatisses; quer ser mais estoicista do que algum dia Ricardo Reis poderia ter sido.

É uma visão triste mas creio que é o retrato da sociedade portuguesa de hoje.

Filipa V. Jardim disse...

Os Senhores têm razão: está tudo um bocadito apático e por este andar vai ficar tudo um bocadito anémico. Veja-se o caso da Grécia...pelo que me dizem, somos os "fregueses" que se seguem. Talvez depois,as pessoas acordem. Mas isso, pouco tem que ver com regimes de monarquia ou república... Ou tem?

João Afonso Machado disse...

Filipa:
Penso que o que estes comentadores estão a tentar dizer é que a presença do Rei é o grande «motor» contra o comodismo instalado.
Isto não é explicável matemáticamente, só pode ser sentido. Mas a realidade histórica demonstra-o bem: as grandes fases de que nos orgulhamos, foram sempre momentos de grande coesão nacional em torno do Rei.
Com um Presidente... é dificl esquecer que ainda no outro dia estavamos todos encalpelados contra ele, apoiando e votando no seu adversário eleitoral.
Os portugueses precisam de motivação e a República não a dá, porque não consegue transmitir um propósito de esforço colectivo.

Até o Bernardino dizia isso, enquanto a tentação de mandar (era obsecado com a ideia de ser Chefe de Estado)não tomou conta dele.

Nuno Castelo-Branco disse...

Hºa ainda uma explicação bastante plausível para o Bernardino. A síndroma do "Grão-Vizir que quer ser Califa em vez do Califa", perturbação do foro psicológico com ampla justificação nos manuais da especialidade. Nada que tenha desaparecido. Basta vermos os telejornais. Infantilidades...

Filipa V. Jardim disse...

João Afonso,

Percebo o que os comentadores estão a dizer. Mas também percebo que os portugueses, que nasceram numa república, terão muitas questões sobre como seria no caso de uma monarquia. Ora essas questões não são respondidas pelo Bernardino, pelo Rei Dom Carlos...
E será que o povo português está assim tão instalado Pedro de Souza- Cardoso? Se calhar até está! Mas o povo português de vez em quando tem uns "repentes"...talvez o último, tenha sido o menos expectável: a causa de Timor.
De repente, levantou-se tudo da "esplanada" por causa de um território que fica do outro lado do mundo...

Nuno Castelo-Branco disse...

Filipa, já por diversas vezes disse que o caso de Timor foi o último assomo de consciência nacional deste povo. É por isso mesmo que a Monarquia poderá unir as pessoas, trazê-las aos milhões para a rua. Uma libertação.

Filipa V. Jardim disse...

Nuno Castelo Branco,

Acho que depende de vários factores.O primeiro está em as pessoas perceberem quais são as vantagens disso...
Outro, pode ser, as pessoas perceberem quais são as desvantagens daquilo...

Mas entre um e outro, está um processo de informação e desmistificação que implica trabalho e empenho. Muita organização, também.E visibilidade.E saberá o Senhor, melhor que eu,uma mera comentadora,o que mais...

Que as pessoas estão descontentes, que se procura alguma coisa, que essa coisa pode ser uma coisa nova, acho que disso nenhum politólogo nem nenhum sociólogo dúvida.

Nuno Castelo-Branco disse...

Filipa, também nada mais sou senão um comentador e um interessado. Apenas isso.
Há muito para fazer, embora os nossos adversários estejam tão ansiosos em fornecer matéria para os combater.

Quanto à sua questão acerca das vantagens de uma instituição e as desvantagens de outra, creio que tem razão. É difícil passar a mensagem, porque a nossa gente está desinteressada de tudo.

Anónimo disse...

A república têm uma vantagem de há 100 anos para cá: Têm uma máquina logistica muito grande. Implica dinheiro, controle dos principais orgãos de poder e a apatia geral. Esse esquema funcionou de 1910 até 1933 e depois dai quando os principais republicanos passaram para a oposição contra Salazar. A monarquia têm sido vitima da campanha desses velhos republicanos. Se juntamos aos esquemas de Salazar contra Dom Duarte Nuno não admira nada que a opinião pública relacione a monarquia como ideal absolutista. Depois não esquecer dos interesses que certos detentores de empregos ou favores do estado não querem arriscar.

Nuno Castelo-Branco disse...

daniel, até quando continuarão a manter a ficção? Um dia destes, fogem para lugar incerto, mas nós ficaremos por cá. Em que estado?