domingo, 18 de abril de 2010

A estratégia repúblicana

É notícia dos jornais, o Grão Mestre da Maçonaria, António Reis, viu-se obrigado a reconhecer que os ventos não correm de feição para a recém-baptizada «Ética Republicana».
Pois não. Até porque a dita menina bem comportada não passa de uma figuração, um conto de fadas com os escassos assanhados da República, em Portugal, pretendem, uma vez mais, enganar os portugueses.
Como? Enaltecendo os princípios e uma moral que jamais existiu. No papel e, muito menos, na prática de dez décadas.
Em termos mais concretos, a estratégia dos defensores da plutocracia e do status quo republicano, das suas mordomias, afinal, tentam reconstituir a história da «Ilda» com as seguintes cores deste confuso grafitti:
- De 1910 a 1926 viveram os portugueses todas as delícias paradisíacas de uma democracia parlamentar. Republicana, claro.
- Entre 1926 e 1974, não valeu. Foi a ominosa ditadura. Republicana? Obviamente não! Monárquica? Não falta a vontade de responder afirmativamente. Mas o despudor ainda não chegou a esse ponto.
- De 1974 aos nossos dias, o paraíso redivivo. Uma delícia. É Abril, a República em todo o seu explendor.
Tal mentira, é imperativo nacional seja desmentida. A República faz efectivamente cem anos, 48 dos quais vividos em autocracia. Antes, fora o caos político, as perseguições religiosas, o terror militar. E depois, é o que é, tudo aquilo de que nós portugueses nos revoltamos: a corrupção, a riqueza na mão de muito poucos, a burocracia e o clientelismo.
Sempre os monárquicos lutaram contra a situação republicana. Fazendo sempre notar os seus argumentos e a sua representatividade. Mormente na II República que, jamais deixaremos esquecer, significa metade do tempo de vida da «Ilda».
E, a própósito, um excerto da obra recente (2003) de Helena Matos - «Salazar - A Construção do Mito»:
« (...) em Junho de 1931, os dirigentes da Causa Monárquica mostram-se mais reservados (...) não excluindo a hipótese de apresentarem candidatos próprios nas próximas eleições. "(...) havemos de votar, naturalmente, em quem nos assegure a manutenção da integridade nacional e da ordem pública" - afirma Azevedo Coutinho ao jornalista do Diário de Lisboa. (...) há quem garanta "saber que os integralistas concorrerão às urnas". (...) estas linhas não são de modo algum tranquilizadoras para os homens da UN que contavam ir buscar apoios, entusiasmo e votos aos arraiais dos integralistas e dos monárquicos».
E, prosseguindo, a deixar claro que já então a «Ética» mancaria muito, fosse o caso de ser uma realidade:
«Mas é de Coimbra, cidade cuja importância política era inegável, que chegam as notícias mais graves. Elas são susceptíveis de abalar o próprio Governo, pois apresentam Lopes Mateus, o ministro do Interior, como patrocinador de um Partido Republicano das Direitas que esvaziaria a UN de sentido».

9 comentários:

Filipa V. Jardim disse...

João Afonso,

O eterno problema da teoria e da praxis. Falámos já alguma coisa sobre isso em relação ao Positivismo.

Quanto ao intervalo de tempo 26-74 não restam dúvidas sobre o regime em que se viveu.

O que agora se comemora, independentemente do tempo de vida da Ilda, deveria, por respeito aos milhares de desempregados e à crise que o País enfrenta, ser feito no maior comedimento.Falar em dez milhões de euros de comemorações, seja por que motivo for, parece-me um excesso.

Aforou aí um tema que me parece interessante: as ligações entre a maçonaria e a república, que se reflectiram, nomeadamente, na atribuição de cargos públicos...

João Afonso Machado disse...

Filipa:
Essa é outra interessante questão: o que leva a República a festejar-se assim exuberantemente?
Medo, penso eu. O povo anda descontente. e, como na Roma antiga, "panem et circenses"

Anónimo disse...

Ética Republicana? Isso é algum partido novo?
Há-de ter tantos votos como a Nova Democracia do Monteiro.

M. Figueira

Pedro de Souza-Cardoso disse...

Julgo que Ética Republicana não é um partido novo, mas antes, uma partida nova!

Sempre dá para rir um pouco com estes maçons...

O Faroleiro disse...

Meu caro amigo.

Tanto falhanço nesta história que inevitavelmente encadeia com outras histórias tanto atrás como à frente...

Ora vejamos, desde os tempos de D João VI que ao retirar-se estrategicamente para o Brasil rapidamente esqueceu Portugal, nós por cá gramamos com a simpatia de Junot e do maneta até que com o auxílio Inglês os corremos de cá para fora; o Rei como não vinha proclamou-se uma constituição radical (jacobina) à imagem da de Cádiz, entretanto em três frentes surge contestação ao Rei que é obrigado a regressar:

- pelo seu Filho D Miguel e a senhora sua mãe que queriam de volta os previlégios do absolutismo.
- pelo seu filho D Pedro, que à altura já se sentia mais Brasileiro que Português e era liberal (embora mais moderado que os defensores da constituição vintista)e queria o Brasil independente
- pelos Vintistas, onde foi criado o embrião da república, aliás a primeira constituição foi claramente um aviso que os dias da monarquia caminhavam para o seu fim.

De quem é a culpa ? Da parte que me toca já sabe o meu amigo a resposta, estava no Brasil a sonhar com a expansão da colónia convertida a Reino !

Daí para a frente houve de tudo, mas a semente para o radicalismo estava lançada.

Mais para a frente, já não era vivo D Pedro nem o sr. seu pai aparece um salvador de seu nome Costa Cabral, reformista e com punho de ferro, por duas vezes teve na mão o destino da pátria, por duas vezes de lá foi corrido, mais um salvador que falhou.

Quando chegaram os amigos do Costa chegaram pela força das armas, D. Carlos pagou com a vida assim como o Infante; D Manuel não tinha força o bastante para travar esta gente que nos desgraçou à conta do terrorismo de rua, marca registada da I República.

Eventualmente, terror com terror se paga e vem daí chega ao poder Sidónio Pais, o primeiro esboço do Salazar, é morto a tiro um ano depois, mesmo a tempo de arcar com as culpas do massacre de La Lys.

No regresso do PRP ao poder continua a pobreza, a fome, o bastão e a bomba pelas ruas da república até que, pela mão da Igreja é encontrada uma solução de seu nome Salazar.

Na altura foi aclamado como um messias, já o tinham sido o Costa e o Sidónio...

Quando chega o 25 de Abril (uma questão sindical militar transformada à pressão numa revolução !!!) estivemos por uma unha negra de conhecer um "salvador vindo do frio" de seu nome Cunhal ! Pela graça de Deus o povo foi mais esperto e brindou-o com um 3º lugar na eleições que aliás o salvador Cunhal não queria nem pintadas de amarelo !

Vem daí criam-se as condições para novo golpe de estado e vem o 25 de Novembro e com ele o novo salvador, o mui jacobino e sempre maçon Dr. Mario Soares !

Até 85 todos sabemos o paraíso financeiro que foi Portugal.

Farto da história, o povo vai e saca de um salvador diferente, um economista de gabinete, meio Sá Carneiro, meio Marcello Caetano de seu nome Aníbal Cavaco.

Efectivamente salvou um pouco o povo mas dialogava pouco e eis que o povo se farta e elege um salvador que dialogava pelos cotovelos, o Engº Guterres !

Dialogou tanto que no fim teve de "fugir" para as Nações Unidas pois fez como a cigarra e esbanjou o que o outro tinha amealhado.

Outros salvadores se seguiram, Barroso, Santana, o Pinto de Sousa...

Moral da história:

Eu já lhe disse a si meu caro João Afonso, seja Rei o meu amigo que eu estou consigo, reúna lá as cortes que eu juro-lhe fidelidade mas não me prometa mais um messias que a história já vai longa...

Olhe que você me está a dever uma dedicatória num livro que eu cá tenho...

João Afonso Machado disse...

Não Caro Pedro Sousa-Cardoso:
Não é uma partida nova - é tão velha como o chapéu-de-chuva do Teófilo.
E continua igual. Volta e meia sai à rua a pé ou no transporte público. Já se sabe: está para chover eleição.

João Afonso Machado disse...

Meu Caro Bicho:
Já tinha saudades das nossas polémicas. Gosto da sua retrospectiva histórica, pela sua isenção e honestidade. Eu serei, com certeza, um pouco menos «rigoroso»: onde há fé há sempre menos transigência. Apesar de tudo, não roubo e não maldigo à toa. E deixo os meus pots abertos a todos que os queiram rebater sem entrar no insulto.
É bom vê-lo por cá. Continue. O seu comentário é de um homem atento. Vou-lhe apenas referir esta nota, de um telefonema que acabo de fazer, por causa de uma publicação que seguramente o vai interessar (a meu cargo apenas 1 capítulo...). Falávamos de José Estevão, o grande tribuno, aveirense, um dos desembarcados no Mindelo. A extrema-esquerda de então, 100% setembrista. Mas que nunca deixou de dizer que Portugal só seria Portugal com o Trono. Seu filho, cartista convicto, foi ministro de J. Franco (N. Estrangeiros) e... da Monarquia do Norte. É assim. Tenho andado atento a essa corrente que diz que o Liberalismo foi a pré-história da República. Falso! Muito trabalho me dão os republicanos.
Tenho uma pessoa para lhe apresentar. E um coo para beber consigo quando lhe assinar o tal livro.
Um abraço.

O Faroleiro disse...

A propósito da corrente que remete ao vintismo as origens da república, tendência para a qual me inclino como o meu amigo sabe fica uma referência :

Maria de Fátima Bonifácio : 1807-1910 A Monarquia Constitucional

Excelente resumo histórico onde essa teoria é desenvolvida cronologicamente.

Quanto ao copo está combinado, terei todo o gosto meu caro, traga de lá o Carlos da Maia a mais o Eusébiosinho o Alencar, o Craft e os outros... E a Srª Cohen se o meu amigo assim o entender.

João Afonso Machado disse...

Meu caro Bicho:
Estou a nalisar esse livro. O que escrevi atrás tinha como refer~encia o dito. Eu sabia que ia falar nele. Aquilo - na minha modesta opinião - não está correcto. Arranjo meios de argumentar contra.
No mais, levo esses amigos todos. espíritos curiosissimos. E levo também situações assentes, se bem me compreende, como não pode deixar de acontecer.