quinta-feira, 8 de abril de 2010

TEÓFILO BRAGA - o Homo Eticus Republicanus (Lineu)

Foi um dos principais no Partido Republicano. Fanático, maldicente, intolerante. Ministro e Presidente. Curiosamente, é hoje pouco mencionado. Por motivos obvios de conveniência, de Teófilo Braga se realça apenas a sua pretensa sobriedade de vida: ia para o trabalho e regressava a casa utilizando sempre o transporte público...
Mas o Museu da Presidência da República, através da sua colecção fotobiográfica «Presidentes da República» (ed. 2006, texto de Rui Ramos) fornece uma visão claríssima do espírito de Teófilo Braga. Como por exemplo (págs. 40-41):
«Eis como descrevia os seus correligionários republicanos na capital: "Se estivermos à espera do levantamento de Lisboa, nunca ele virá, porque essa gente é timorata e cheia de conveniências, tem medo da polícia, da guarda municipal, etc. Além disso, os dirigentes são elementos velhos que tudo empatam. A revolução do Porto é que pode acordar esta gente; então, ver-se-à forçada a aderir. e no caso de aí rebentar a revolução, aí estarei, pronto para o trabalho". Mas quando viu os conspiradores do Porto derrotados e presos, depois do fracasso do golpe na manhã de 31 de Janeiro de 1891, não teve escrúpulos em insinuar que não passavam de gente comprada pelo "dinheirinho da polícia". A partir daí, Teófilo afastou-se dos lugares da frente do movimento republicano, o que não significou que o seu nome não continuasse a aparecer com destaque».

9 comentários:

Anónimo disse...

Cinzento, muito cinzento. E invejoso.

M. Figueira

Lurdes Gonçalves Pereira disse...

Oh João Afonso, eu assumo o meu ideal de monarquia constitucional mas também sou, e muito, pela objectividade e rigor dos factos. Sem desmentir do q diz sb Teófilo penso q esta figura não se reduziu a isto ( uma certa mesquinhez pessoal ) tendo tido um papel relevante na cultura portuguesa de finais de oitocentos c a sua participação no famoso movimento "A Geração de Setenta".
A nossa ideia aqui, julgo eu,não será denegrir a imagem de todos os republicanos, mas antes ( há o depois...) o ideal em si e a acção daí consequente, no seu negativismo funesto. A realidade é q em todos os regimes e movimentos florescem sempre, por vezes no isolamento das suas qualidades, vultos individuais interessantes de préstimo mais pessoal.Há q evitar o caminho do extremismo, q nos cega.
Atenção ,isto é só um alerta moderador, pois tenho consciência q há figuras q nos inspiram um verdadeiro formigueiro cerebral naquela secção da fúria...sabem, a mim por exemplo, ( entre outros ) é o tal de saramago q ouvi dizer q é Nobel... esse sim...figura mais abjecta e repugnante, sem ponta por onde se pegue. Bem mas isso são outras histórias.
Desculpe João se pareceu q defendi o Teófilo, mas percebeu a linha de pensamento, com certeza. E não estamos aqui para dizer amém a tudo...

João Afonso Machado disse...

Com certeza, Gonçalves Pereira. Mas Teófilo é um caso raro que merece ser analisado. Repare que tentou construir uma doutrina republicana com base no Positivismo comtiano. Logoa aí, o anticlericalismo que espalhou, embora quem desse a cara fosse Afonso Costa.
Cego pelo seu Positivismo, toda a sua obra literária sai diminuida, tendenciosa.
Depois, a sua supina inveja tornava-o destestado por todos. Na implantação da república, +por exemplo, cortou relações com Manuel de Arriaga, por este vir a ocupar o cargo por ele desejado: Presidente. Eram amogos há 40 anos...
Com os demais da Geração de 70, assim foi também. Estava habituado «a ver em cada pessoa um inimigo» (sic). Atacou Garret e Herculano; incompatibilizou-se com Antero e Feijó, discutiu com Camilo, diminuiu O. Martins e Eça (deste disse que era vítima de «um fundo atraso mental»). Tinha em Junqueiro um inimigo mortal e Ramalho chamava-lhe «fanático».
Sidónio mandou returar o seu quadro da galeria dos Presidentes (e mais nenhum outro)
Por tudo isto se percebe que, velho e cego, fosse um sozinho. E sozinho morreu, descoberto por uma vizinha no dia seguinte.

Penso que com este resumo (?) deixo claro o objectivo do post: é que além de todas as apontadas caracteristicas de Teófilo - ele pregava moral a toda a gente. Como agora os éticos republicanos.

Ega disse...

Realmente são 3 as figuras que melhor retratam a 1ª República: A. Costa, o perseguidor, Bernardino, o catitinha traiçoeiro, e Teófilo, o invejoso

Nuno Castelo-Branco disse...

Bernardino, mais conhecido pelo "Frasquinho de Veneno".

Camilo ofereceu ao filho Jorge, um burrico que logo foi chamado... Teófilo! Em "honra" ao tal positivista que Camilo dizia ser um pateta.

Filipa V. Jardim disse...

João Afonso,

O Positivismo tem sido conotado e acusado de quase tudo.É preciso ir mais fundo no estudo do Positivismo,na sua génese.Entrar pela teoria da história para se fazerem as análises correctas.
O que acontece é que as correntes de pensamento influenciam a Hitória.Os seus autores, inspiram-se nalgumas partes dessas mesmas correntes...normalmente nas que lhes dá jeito na altura. Tem sido sempre assim e assim irá continuar, uma vez que o pensamento, normalmente, é muito mais abrangente. Filosoficamente falando, é claro.

João Afonso Machado disse...

Filipa:
O Positivismo tem aspectos muito interessantes. A. Comte, por ezemplo defendia que a fé era uma «condição geral indispensável para o estabelecimento e para a conservação duma verdadeira unidade intelectual e moral».
Mas Conte era um pensador e Teófilo um «fanático». O primeiro quis reflectir sobre a ciência e o segundo só quis republicanizar Portugal e ser Presidente. Está dada a diferença.

Anónimo disse...

Excerto de uma carta de Antero de Quental a propósito de Teófilo Braga (In «Unica Semper Avis»):

- Não se enganou o poeta. As armas afiadas “no laboratório merdoso do Teófilo”, conforme a enojada expressão anteriana, não podiam atingir a alma da nossa gente. A República, imposta por traiçoeiro tumulto, matem-se contra o geral querer, trazendo a nação amordaçada e agrilhoada. O povo repele o regime que lhe esconde o Céu e toma por crimes as suas virtudes.

A ajuntar ao que sabíamos, ei-la, a prometida carta de Antero, dirigida a João Lobo de Moura, íntimo amigo do poeta:

«Meu caro Lobo,
Pensei que me ia anunciar a sua estada em Lisboa e eis que me diz não saber ainda quando nem se será transferido. Gosto da resposta do [139 – 140] Barjona: tem um merecimento aquele rapaz, que o distingue no meio dos seus sodales; é a franqueza no cinismo; creio que por isso ficará na história do constitucionalismo português como uma espécie de M. de Calonne, sabe, aquele último e cinicamente espirituoso ministro de Luís XVI, que Michelet nos descreve empurrando alegremente para o abismo a velha monarquia.

A independência de ordem jurídica no actual regime é uma coisa engraçadíssima. Mas quê, meu caro, o regime que está para vir, com a gente que o prepara, ainda nos há-de mostrar coisas mais bonitas. V. Faz lá a ideia dos republicanos portugueses! Tive ocasião de os tratar de perto este ano, e declaro-lhe que quase lhes fiquei preferindo o próprio Barros e Cunha, o próprio Melício, o próprio Santos Silva! Sabe V. Quem é que está hoje sendo um dos grandes repúblicos em Lisboa? Adivinhe... o Teófilo Braga! Redige um jornal intitulado O Rebate (traduza Le Rappel) em cujos artigos de fundo desenvolve o homem todos os recursos do estilo colhido nas antigas leituras do Piolho Viajante. Fala nesta choldra e outras amenidades de linguagem, e propõe-se enforcar toda a gente, começando desde já por enforcar a gramática, o senso comum e a decência. É uma espécie de Marat de soalheiro, que faz rir mas enoja, e enoja tanto mais quanto é lido, o que nos dá a medida da capacidade intelectual e moral do público republicano. Creio que teremos a República em Portugal, mais ano, menos ano; mas, francamente, não o desejo, a não ser num ponto de vista todo pessoal, como espectáculo e ensino. Falam de Espanha com desdém – e há de quê – mas eles, os briosos portugueses, estão destinados a dar ao mundo um espectáculo republicano ainda mais curioso; se a república espanhola é de doidos, a nossa será de garotos.
A grande revolução, meu caro, só pode ser uma revolução moral, e essa não se faz dum dia para o outro, nem se decreta nas espeluncas fumosas das conspirações, e sobretudo não se prepara com publicações rancorosas de espírito estreitíssimo e ermas da menor ideia prática».

(Citado por Luís de Almeida Braga em 1942 ...)

João Afonso Machado disse...

Lobo de Moura, personagem insuspeito. Um dos subscritores do Manifesto dos «Estudantes da Universidade de Coimbra» dirigido «à opinião ilustrada do País», de que foi 1º signatário Antero de Quental.