quinta-feira, 8 de abril de 2010

Gatunagens...



Logo em Outubro de 1910, as novas autoridades do regime instaurado pelos obuses de 75mm, expropriaram uma colossal quantidade de bens pertencentes à Igreja. Nem mencionando as depredações que levaram à fogueira estátuas, preciosas alfaias e paramentos religiosos, há que mencionar pilhas de livros, inconábulos, arquivos, etc. No entanto, entre os bens mais cobiçados, encontravam-se os imóveis que foram logo ocupados por organismos estatais ou apêndices parasitários do novo regime, como "comissões para a promoção do ensino", ligas várias e outras necessidades prementes de agrado à devorista clientela que ainda medra sob várias denominações aggiornadas.

Quantos edifícios foram deixados ao mais completo abandono e depredação? Muitos, demasiados. Despiram-nos da decoração, talhas douradas e outras riquezas que para sempre se perderam após o saque, aproveitando uma mão cheia de gatunos bem instalados. Um desses imóveis foi a Igreja de Campolide, imponente construção que se ergue nas imediações da Penitenciária de Lisboa. Está sob a alçada do sempre esquivo Ministério das Finanças que durante tantas décadas deixou cair o "imóvel de interesse público" (séc. XIX) na situação com que hoje deparamos. É certo que continuam os useiros rodriguinhos da "falta de verba", "situação jurídica" e outras desculpas do estilo, chegando-se ao cúmulo - suprema ilegalidade - da igreja nem sequer se encontrar registada na Conservatória do Registo Predial, ou na matriz predial. Sabemos o que por outras palavras, isso significa: a construção praticamente "não existe", habilidade que outras entidades - como a Câmara Municipal - tem usado para demolições dentro da área histórica. Com a hipotética extinção da Penitenciária, já se calculam as manobras especulativas a que a CML se propõe com os seus amigos do costume. Lembrem-se do que se passa na Duque de Loulé, onde o 35 caiu vítima do camartelo, após a sua retirada do Inventário Municipal. Hoje, um miserável mamarracho (Fundo BES do primo Salgado) está em construção naquele terreno. Há alguns anos, não houve grandes problemas na devolução de bancos e outras empresas a muitos que hoje são os sponsor da "Situação".

O Provedor de Justiça solicitou ontem ao dr. Teixeira dos Santos, a restituição gratuita da igreja de Campolide ao Patriarcado, mas a tutela não está nada interessada em qualquer tipo de justiça. Quer continuar a enfardar, mesmo se neste caso, lucrar com o roubo dos seus predecessores. O mesmo se passa com a Real Quinta de Caxias - ao abandono pelas Forças Armadas - , cujo legítimo e roubado proprietário é o Duque de Bragança. O Estado - "nós" - quer devolver a igreja de Campolide à respectiva paróquia, mas exige dinheiro pela devolução do roubo que vergonhosa e abusivamente perpetrou. Por aquilo que não consegue manter, exige mais de 46.600 contos (233.000€)! O descaramento é total.

Crentes ou não crentes e independentemente de questões religiosas, trata-se de uma reparação. Ladrões, devolvam o que roubaram!

7 comentários:

Ega disse...

Recordo aqui uma caçada a que fui perto de Monsaraz, nas terras do Roncão d'El-Rei. Um dos locais preferidos por D. Carlos que a República roubou à Familia Real e integrou na salazarista Fundação da Casa de Bragança. Ainda lá estava o pavilhão real - ou que sobrava dele. Umas ruinas completas, numa ou noutra sala ainda se notavam os frescos das paredes. Salões, capela, restantes divisões - tudo transformado no curral de uma vara de 200 porcos!!!
Foi o melhor bem do Alqueva: as águas afundaram aquela pouca-vergonha. Antes assim.

Filipa V. Jardim disse...

Passo lá muitas vezes.
É de facto uma vergonha deixarem cair este edifício.

Nuno Castelo-Branco disse...

Mesmo assim, aproveitam para sacar uns tostões. Inacreditável e indigno.

Anónimo disse...

Em relação a tudo o que passa em Portugal, e não me refiro, como se sabe, apenas aos últimos 100 anos, já disse o que penso.

A falta de homens corajosos e integros.
De Homens com H, iguais aos que atravessaram TODOS os Mares, e descobriram TODAS, as Terras.

Homens que não se acobardem face a um bando de mafiosos a soldo de países estrangeiros.

Na falta de Homens destes, talvez haja um grupo de Juristas, que raspem o bolor bafiento das Leis, e descortinem uma Base Jurídica para Processar esta escumalha, e fazê-los devolver o máximo possível do que roubaram.
Sem tibiezas.

Nós juntamo-nos para pagar as taxas Judiciais, que eu sei por experiência própria, serem elevadas, já que ainda há pouco, movi uma acção judicial contra um dos ramos do Grupo.

Eu agi completamente só. Tive que mudar três vezes de Advogado, e aturar as represálias em que aquela escumalha é perita.

Mas nunca deixaria de lutar, pelo meu direito.

Recuso-me a aceitar, que alguém o faça.

Maria da Fonte

Ega disse...

Por aqui, cara Maria da Fonte?
É sempre bem vinda, se me é permitido fazer as «honras da casa».
Aliás, desta casa onde se trata de desmistificar esta mentira que nos governa há 100 anos.

Luis Ferreira disse...

Também passo lá algumas vezes e é de facto uma vergonha deixar cair este edificio. Na verdade já nada me admira pois Lisboa e o nosso património está a cair aos bocados, além das ruas onde circulamos que estão uma verdadeira lástima. Já agora mesmo em frente ao mastro onde há uns dias pude ter o orgulho em ver a nossa bandeira monárquica hasteada,aproveito para mais uma vez para criticar a Câmara de Lisboa que tem o passeio ali em frente num estado miserável à quase dois ou três anos, como a degradação do mesmo jardim que é uma vergonha.Não fazem obras básicas para os cidadãos, mas depois quero gastar milhares de Euros para comemorar Cem Anos de tristezas e vergonhas.

Anónimo disse...

Boa Noite Caro Ega

Eu bem me divido...

Mas ás vezes, juro que desespero.
Passou tanto tempo...
E a luta é tão desigual...

Maria da Fonte