«Na viragem do século a polémica anticlerical agudizou-se quer no meio socialista, quer no meio republicano; confundia-se o Clericalismo e mesmo o Catolicismo com a Monarquia. (...)É neste contexto que Sampaio Bruno publica em 1907 A Questão Religiosa, escrito fundamental do anticlericalismo português.
(...) Para Bruno, a influência do clero na sociedade vem da sua influência na mulher, através do confessionário. É aí que se deve atacar:
"(...) O que dá força ao clero católico não é o dogma: é a confissão auricular". (...)».
(in «Portugal e os Portugueses», Assírio & Alvim, 2008, pág. 30).
5 comentários:
EXCERTOS DE "MEMÓRIAS DE UM ÁTOMO":
Quando entrou na cabine reinava ainda o silêncio e a solidão. Foi acomodar-se junto do postigo que lhe estava destinado e preparou-se devidamente.
Uma voz surgiu no microfone, carregada de instruções. Outros vinham chegando. Estava tudo para muito breve.
Os ouvidos enchiam-se-lhe agora de palavras amenas e convidativas e sentiu o inicio do movimento, como uma vida que se ergue. Deitou os olhos ao postigo: a ponte, o mistério das águas, insondável mistério...
E uma primeira paragem. O homem trabalha, Deus manda, arrecadai o produto da colheita, farta seja ela...
Mas o mundo não pára. E a vida suja-se nos pântanos, chega-lhe perto o infernal cheiro sulfuroso, a fuga é um alívio até a um próximo momento de pausa e beleza: é a criação em paineis de azulejo, o amor ao próximo que continua a percorrer a cabine, vinde a mim, vinde, vinde, ouve bem claro.
São amplas as vinhas. E os mistérios escondem-se nos choupais, de onde só odem emergir o trinado dos rouxinois e as falas dos profetas.
Também o estudo e o saber são exigiveis ao Homem.
Longa travessia sem mais paragens. As serranias elevam-se a tocar o céu, férteis pradarias lhe sucedem, a vida não olha para trás como também não aqueles rebanhos, o gado do homem rico. E por fim o grande lago, as barcas e as rede lançadas ao peixe.
A voz surge novamente, avisando o fim da jornada. Nada há que dure eternamente. Cuidai-vos! - que o último degrau é sempre o mais perigoso.
Sente a fúria dos carris amainar. Serenamente retira o auricular e elogia em pensamento o excelente programa da Rádio Renascença. O Alfa Pendular imobiliza-se, enfim.
A senhora compõe a saia, dá um jeito na blusa. Graças a Deus chegara bem a Santa Apolónia.
Caro amigo,
De facto há uma questão interessante, na religião Católica sempre foram as mulheres a prestar especial devoção, talvez até porque, ao contrário do que muitas vozes ditas ajuizadas, esta é uma religião em que a mulher ocupa um papel especial, graças à Virgem Santa Maria, euqnato Co-Redentora da Humanidade e sua Protectora.
Tem toda a razão, caro Francisco.
Mas agora veja a extraordinária opinião de Sampaio Bruno no livro acima citado: OS PADRES DEVIAM OBRIGATÓRIAMENTE CASAR!!! Sabe porquê? Porque temendo que eles relatassem às respectivas mulheres os pecados das senhoras que a eles se dirigiam para se confessarem, estas últimas evitariam o confessionário. E assim cessva a tal maléfica infuência dos padres na sociedade através da confissão das mulheres!
Concordará que teorizar assim não é para qualquer um.
João Afonso,
Muito boas as memórias de um atómo.
Quanto aos padres dizerem tudo às mulheres, na caso de as terem, reta alguma dúvida?
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