terça-feira, 16 de março de 2010

INIMIGOS, INIMIGOS, NEGÓCIOS À PARTE

«Querido amigo:

Estou em cuidado por não ter respondido ao meu telegrama. Diga como está.

Muitos parabéns lhe sejam e ao seu grande coração. A liberdade condicional será concedida ao pobre rapaz da Penintenciária na primeira assinatura.

Está concluida a sua obra. Ainda parabéns.

Beijo as mãos da Júlia. Estreito abraço do seu amigo dedicado e grato

Bernardo»


«Querido João Chagas:

(...).

Você estragou tudo lançando o meu nome no caso do pobre penitenciário. Se se fala em si acho muito bem porque a si e só a si ele deve a liberdade que está gozando.

Anteontem fui ao escritório do Alexandre Braga, para lhe pedir que não mencionasse o meu nome na tal carta-agradecimento. Não tive a fortuna de o encontrar. (...).

De resto, se o não procurasse, continuaria sem saber, apesar da minha carta de Mafra, se o Alexandre Braga ainda viveria! (...)».


Correspondência entre o Conde de Arnoso, Secretário particular d'El-Rei D. Carlos, e João Chagas, dirigente do Partido Republicano (Fevereiro de 1904).

(in «Correspondência Literária e Política com João Chagas», vol. I, Empresa Nacional de Publicidade, Lisboa, 1958).

5 comentários:

Filipa V. Jardim disse...

João Afonso,

Uma curiosidade que talvez desconheça:
Foi João Chagas o responsável pela tradução do libretto dos "Bandidos" de Offenbach, levado à cena pela primeira vez em Porugal, no Teatro Príncipe Real do Porto.


Filipa V. Jardim

João Afonso Machado disse...

Filipa:
Efectivamente desconhecia.De João Chagas conheço melhor o seu republicanismo, posto já no 31 Janiero ter sido dos poucos dirigentes do PR que «deu a cara». Honra lhe seja feita.
Intransigente, chegou a afirmar «o rei é o inimigo», nas suas lides jornalísticas.
Curiosamente, como vê, dava-se muito bem (a correspondência assim o demonstra) com o Secretário do Rei e o mais fiel defensor da sua memória.

Francisco RB disse...

Caro Afonso Machado,
É particularmente relevante tal situação, demonstra a tolerância dos monárquicos e de alguns republicanos, em particular daqueles com alguma cultura.
Essa é uma contradição interessante, faz lembrar que a república, cujo o centenário dos seus 55 anos se comemora, é cheia de contradições, por exemplo fez sempre um culto a figuras monárquicas e a rei, como D. João II, cujo lema adoptou para a sua guarda pretoriana.
Saudações monárquicas
Francisco RB

João Afonso Machado disse...

Caro Francisco RB:
Concordo absolutamente consigo.
Onde não houver fanatismos e se mantiver o respeito pelo próximo, haverá sempre concórdia entre as pessoas, indepemendentemente das suas convicções politicas, religiosas, estéticas, etc.
Acrescentaria até que, nesse época, a mentalidade dominante era, apesar de tudo, o respeito. Talbez as maiores questiúnculas surgissem dentro das facções monárquicas, e os republicanos mais não tiveram de fazer senão aproveitar-se delas...
Aind assim a Monarquia não se deixava derrubar. Então foi preciso recorrer a meios extremos: o Regicídio.
Cumprimentos

Anónimo disse...

Caros Amigos

Acho que passados 100 anos do regicidio, muito se falou do Costa e do Buiça, como dois herois que tiraram a vida ao rei e ao principe herdeiro, de uma forma bárbara e cruel. Hoje em dia continuam a ser muito considerados como duas figuras de vulto da nossa história pelos republicanos, para mim não passam de uns meros criminosos.
Penso que devemos reabelitar a memória de todos aqueles que no cumprimento do seu dever procuraram defender a familia real,tal como "O tenente Francisco Figueira Freire, oficial às ordens do rei,que de sabre desembainhado acutilou o Costa, já tombado e depois caiu sobre o Buíça e atravessou-o à altura dos rins", que no cumprimento do seu dever como militar e monárquico foi ferido pelos agressores e posteriormente foi coagido a ir para Macau, como castigo do cumprimento do seu dever.