«A ideia republicana já tivera em José Faria Henriques Nogueira (1848), Sousa Brandão, Gilberto Rola, Elias Garcia e poucos mais, um bruxulear indeciso. Só em 1890, oito anos depois de D. Luís ser Rei, surgiram as primeiras publicações republicanas. Um ano depois, a 3.ª República Francesa deu-lhe novo alento, com Oliveira Martins, Antero de Quental, Guilherme Braga, Alexandre Braga, pai, Custódio José Vieira, Vieira de Castro, Amorim Viana, Manuel Emídio da Silva, e alguns mais, e um centro republicano, o primeiro, na rua da Padaria, em Lisboa.
Só em 1874 se publicou o primeiro diário abertamente republicano, a República, com Carrilho Videira, e Consiglieri Pedroso, e dinheiro espanhol!
As continuaram mal. D. Luís conseguira da Imperatriz dos Franceses que as freiras daquela nacionalidade que em Portugal se encontravam recolhessem a França, o que fizeram no paquete Orenoque, e logo a imperatriz viúva de D. Pedro IV, por despique abandonou com as suas damas a protecção que dispensava aos asilos e outras instituições beneficentes de que se diziam desveladas protectoras.
No norte lavrava a desordem. No sul um espectativa [sic] benévola. Herculano, figura austera de português de lei, dava ao país um exemplo nobílissimo rejeitando com altivez eloquência a grã-cruz de S. Diago.
D. Luís casara com D. Maria Pia de Sabóia e foram ambos visitar o País. Em Coimbra, foi um delírio. Os estudantes chamaram a D. Luís o primeiro mestre, o primeiro pai, o primeiro amigo, e meses depois pediram-lhe dispensa dos actos universitários por intermédios do governo, e o governo recusou. E os estudantes levantaram-se e deram vivas a D. Miguel!
Começavam cedo o culto da desavergonha estes alunos de Minerva.
Chegamos a 1863 e o Parlamento fechou com chave de oiro, abolindo a pena de morte. Vítor Hugo exaltava e escrevia a Eduardo Coelho uma carta sublime em que Portugal dava lições à Europa. É desta carta do Grande Hugo, esta tirada magnífica: “A Liberdade é uma cidade imensa da qual todos somos cidadãos”.
Entretanto, os republicanos agrupavam-se… e dividiam-se. Diziam-se republicanos e insultavam-se. Tinham um pé na República e outro na Monarquia. José Elias Garcia era ao mesmo tempo da Comissão Executiva do partido republicano e secretário do centro monárquico reformista. Ladislau Batalha e Carrilho Videira foram apodados de vendidos. Bernardino Pinheiro era íntimo de Saraiva de Carvalho. Nas eleições de 1878, os candidatos republicanos Pereira de Lima e Elias Garcia foram extra-oficialmente apoiados pelo governo!
A vida portuguesa não se modificara com D. Luís. Mariano de Carvalho escrevia que “o manto real, que sob as pregas devia abrigar o país inteiro, se desdobrava para proteger a ladroagem da penitenciária”, tornando-se “capa de malfeitores e abrigo de malifícios [sic]”. Martins de Carvalho proclamava que o partido de Fontes era o “partido da camadarilha do paço, dos grandes esbanjadores dos dinheiros públicos, dos autores dos maiores escândalos, injustiças e patronatos, - os penitenciados”.
Por seu lado a organização republicana dividia-se em grupelhos: federativos, unitários, socialistas, radicais, oportunistas, e possibilistas…
Só os primeiros mantinham intacta a pureza dos princípios. Os unitários “eram” progressistas; os oportunistas, regeneradores; os socialistas, movimentavam-se consoante os ventos, ora progressistas ora regeneradores; os radicais, jogavam de porta.»
Só em 1874 se publicou o primeiro diário abertamente republicano, a República, com Carrilho Videira, e Consiglieri Pedroso, e dinheiro espanhol!
As continuaram mal. D. Luís conseguira da Imperatriz dos Franceses que as freiras daquela nacionalidade que em Portugal se encontravam recolhessem a França, o que fizeram no paquete Orenoque, e logo a imperatriz viúva de D. Pedro IV, por despique abandonou com as suas damas a protecção que dispensava aos asilos e outras instituições beneficentes de que se diziam desveladas protectoras.
No norte lavrava a desordem. No sul um espectativa [sic] benévola. Herculano, figura austera de português de lei, dava ao país um exemplo nobílissimo rejeitando com altivez eloquência a grã-cruz de S. Diago.
D. Luís casara com D. Maria Pia de Sabóia e foram ambos visitar o País. Em Coimbra, foi um delírio. Os estudantes chamaram a D. Luís o primeiro mestre, o primeiro pai, o primeiro amigo, e meses depois pediram-lhe dispensa dos actos universitários por intermédios do governo, e o governo recusou. E os estudantes levantaram-se e deram vivas a D. Miguel!
Começavam cedo o culto da desavergonha estes alunos de Minerva.
Chegamos a 1863 e o Parlamento fechou com chave de oiro, abolindo a pena de morte. Vítor Hugo exaltava e escrevia a Eduardo Coelho uma carta sublime em que Portugal dava lições à Europa. É desta carta do Grande Hugo, esta tirada magnífica: “A Liberdade é uma cidade imensa da qual todos somos cidadãos”.
Entretanto, os republicanos agrupavam-se… e dividiam-se. Diziam-se republicanos e insultavam-se. Tinham um pé na República e outro na Monarquia. José Elias Garcia era ao mesmo tempo da Comissão Executiva do partido republicano e secretário do centro monárquico reformista. Ladislau Batalha e Carrilho Videira foram apodados de vendidos. Bernardino Pinheiro era íntimo de Saraiva de Carvalho. Nas eleições de 1878, os candidatos republicanos Pereira de Lima e Elias Garcia foram extra-oficialmente apoiados pelo governo!
A vida portuguesa não se modificara com D. Luís. Mariano de Carvalho escrevia que “o manto real, que sob as pregas devia abrigar o país inteiro, se desdobrava para proteger a ladroagem da penitenciária”, tornando-se “capa de malfeitores e abrigo de malifícios [sic]”. Martins de Carvalho proclamava que o partido de Fontes era o “partido da camadarilha do paço, dos grandes esbanjadores dos dinheiros públicos, dos autores dos maiores escândalos, injustiças e patronatos, - os penitenciados”.
Por seu lado a organização republicana dividia-se em grupelhos: federativos, unitários, socialistas, radicais, oportunistas, e possibilistas…
Só os primeiros mantinham intacta a pureza dos princípios. Os unitários “eram” progressistas; os oportunistas, regeneradores; os socialistas, movimentavam-se consoante os ventos, ora progressistas ora regeneradores; os radicais, jogavam de porta.»
FREIRE, João Paulo (Mário) - O Elogio da Falta de Vergonha. Porto: Livraria Nelita, [1940], pp. 193-197.
2 comentários:
As ideias democratico-republicanas tendem, pela sua índole, a apoucar o indivíduo e a engrandecer a sociedade (.). É por isto que, nas trevas do seu pensar, a democracia estende constantemente os braços para o fantasma irrealizável da igualdade social entre os homens, blasfemando da natureza que, impassível, os vai eternamente gerando fisica e intelectualmente desiguais. É por isto que ela acreditou ter feito uma religião séria desse fantasma, quando o que realmente fez foi inventar a idolatria do algarismo; e cobrindo com capa de púrpura a mais ruim das paixões, a inveja, enfeitou-a com um vago helenismo, cuja definição, seja qual for, nunca resistirá a uma severa análise».
Alexandre Herculano, «Cartas», t. I, pá. 207.
Parece um texto bastante descritivo da realidade dos nossos dias. Há coisas que não mudam.
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