terça-feira, 23 de março de 2010

O PREC DA 1ª REPÚBLICA

Das «Memórias» do Gen. A. Ilharco, quando comandante de Cavalaria 9, no Porto (1912):

«Como a exaltação republicana do comandante de Infantaria 18 se confundisse com a mais completa indisciplina, solicitei ao comando da divisão o instalar-me no novo quartel (...). esta característica era comum aos comandos de todas as unidades da guarnição (...) continuei a desempenhar-me do meu cargo e a servir o meu país (...) cumprimento exacto dos regulamentos sem exteriorisações para armar ao efeito; disciplina suave, mas persistente; instrução dos quadros como o regulamento me impunha.
Esta minha atitude (...) criou-me (...) um certo desdém pela falta de espírito republicano, como eles o consideravam. (...)
Com a substituição do comando da divisão coincidiram as incursões monárquicas. Tudo mudou.
A organização carbonária desenvolveu-se. Os comandos das unidades requisitavam o seu auxílio para a guarda dos quarteis, prevendo um perigo que só na sua mente existia, se não era mais do que um pretexto para exibirem o seu republicanismo. (...)
As prevenções eram frequentes, e em uma noite em que o regimento se achava de prevenção, apareceu junto do quartel um batalhão de voluntários civis, comandado por um deputado, declarando à sentinela que traziam uma ordem do quartel general para o comandante. (...)
O então comissário de polícia, Pereira de Magalhães, ofereceu-se para ir averiguar o que havia. (...) informou que o único regimento que podia prestar qualquer serviço era cavalaria 9 (...). Todos os outros regimentos tinham nos quarteis mais indivíduos da classe civil do que militares, e a desordem era completa».

2 comentários:

Francisco RB disse...

Caro amigo,
Tal situação, das miliciais e artilharia civis ocorreu em vários momentos da nossa história e de outras nações, normalmente em todas as revoluções desde 1143 tal se verificou (talvez com a excepção da revolução do Porto de 1820, atenta ao proficionalismo de quem a organizou).
Em frança ocorreram sempre as diversas comunas, aquando da Convensão e do Directório, da guerra franco-prussiana, do fim da monarquia dos borbouns, etc...
O povo em armas é uma tradição dos países fortemente nacionalistas, não podemos esquecer que em portugal, até recentemente, e na frança, até 1940, o exército era considerado como um exército de cidadãos, não como algo profissional.
Contudo também não podemos esquecer que efectivamente a maior parte dos oficiais eram monárquicos e que foi esse povo em armas que defendeu, mal ou bem, a manutenção da república.
Tanto mais que os republicanos tiveram que criar a GNR como contra poder do exército e como guarda pretoriana do regime.

João Afonso Machado disse...

Meu caro Francisco:
Aquele aglomerado de civis armados nos quarteis a que se refere o Gen. Ilharco eram - em minha opinião - o equivalente aos revolucionários que armou e dizia depois que as G3 «estavam em boas mãos».
Ou seja: suponho que sei distinguir entre essas «trupes» e uma revolução nacional como foi - com o povo em armas - a «Maria da Fonte» ou a Patuleia.
A situação descrita por aquele oficial (aliás, republicano) era a de um grupo minoritário, actuando nos grandes centros urbanos, sem consonância com o resto do país.
Friso: esta é a minha opinião. Apenas.