«Durante todos estes longos anos, nunca falei.
É verdade que ainda era vivo o rei D. Manuel, meu filho, todo dedicado à causa portuguesa, e que tenho o orgulho de ter educado no culto da sua pátria. E se agora vivo em França, depois de vinte e cinco anos passados em Portugal (...) as minhas afeições, e mesmo a minha tragédia, fizeram de mim portuguesa até à alma.
(...) pedi que fosse desmentido um dos mais crueis boatos sobre a nossa partida de Portugal. Não fugimos para Gibraltar. Assim que embarcámos na Ericeira (...) tinhamos a intenção de nos dirigir para o Norte e desembarcar no Porto, que reclamava o seu rei. (...) quero desmentir aqui solenemente aqueles que ainda ousam dizer que nos dirigimos para o Sul porque, a bordo, havia duas raínhas em lágrimas. É mentira. (...)
Não chorámos, não nos queixámos, não tivemos medo. Chorei, sim, mais tarde, mas de pena e desespero. Nunca os Braganças foram cobardes! (...) mesmo na morte - amámos a pátria distante».
NOTA: «A viagem da Raínha decorreu de 19 de Maio a 30 de Junho de 1945; foi de Lisboa a Fátima, do Buçaco ao Mosteiro de Alcobaça e Batalha, parando na Ericeira, o seu porto de exílio, e visitando os dispensários que ela própria criara».
(in Stéphane Bern, «Eu, Amélia, Última Rainha de Portugal», Livraria Civilização Editora, pág. 224).
11 comentários:
Exmos Senhores
Aqui está o testemunho de uma grande Senhora, que apesar de não ser portuguesa de nascimento, aqui dá-nos uma demonstração do quanto amava a sua nova pátria. Um exemplo para os nossos actuais governantes que só penso em arranjar tachos que lhes sirvam os interesses pessoais. Viva a Monarquia.
Luis Ferreira
Caro amigo,
Como sabe acho que as rainha D. Amélia e D. Maria Pia passaram a maior tragédia que uma mãe pode ter, viram os seus filhos respectivos serem mortos de forma trágica e desnecesssária, quão diferente seria uma república que instalada democraticamente e por via eleitoral (como em Itália) não tinha na sua génese ee origem o sangue de dois seres humanos assassinados, um deles apenas por ser filho do rei.
De facto é sabido que a monarquia estava, como está hoje a republica, sujeita a grande contestação, não podemos negar a incompetência que os últimos governos do rotativismo deixaram o país, mal que a república não resolveu (até porque o Bernardino bandeou-se de lado).
A I republica e a monarquia constitucional tiveram os seus erros, os quais podem ser reparados numa nova monarquia, quem sabe com a restauração da Constituição de 1822, que os republicanos tão abertamente defenderam querer restaurar ou adaptar, para depois criarem uma nova constituição!!!
Caro Amigo:
Obviamente O Rotativismo foi para o inferno de tanto pecar.
Mas isso nada tem a ver com a Monarquia. É um fenómeno que emerge de uma nova consciência politica, de um fenómeno social que tem a ver com a génese da «classe politica».
Digo de outra maneira: sou critico do Estado Novo por não admitir o plurallismo; e aceito a III República na parte que admite o pluralismo. Não sou republicano porque entendo que a República - fora da questão dos partidos - não nos garante um sentido de Nação sem o qual Portugal não sobrevive como História - porque o Futuro faz parte da História.
Caro amigo,
Veja bem, a democracia não é apenas o pluralismo, na acepção liberal havia até uma certa aversão aos partidos (se calhar até tinham uma certa razão), pois o homem devia ser totalmente independente, como se lembra era a causa de serem proibidos certas associações, como por exemplo os sindicatos.
A questão de fundo está obviamente nos meios não democráticos utilizados em nome da instauração de um regime dito moralmente superior, a morte é sempre injustificada, a repressão é inaceitável, a revolução apenas se justifica contra a tirania e a ditadura. Obviamente em 1910 não havia ditadura, logo não se justificava a revolução.
Para além disso, a III República é a pior, é falsa e prepotente, diz-se superior, quando basicamente é a II República transvertida de pluripartidarismo.
Caro Francisco:
Há ainda um factor a considerar. O da estabilidade politica e social. Nesse a I República bateu todos os records. Morreu muita gente. A maior revolta ocorreu em 1915 e foram largas dezenas de mortos só em Lisboa. Mas houve muitas outras mais. Fenómeno felizmente não ocorido nas demais repúblicas , exceptuando o último golpe militar radical, em 1927, e a Guerra Colonial.
O autor da obra ficcionada acerca da rainha D. Amélia, não pode ser levado a sério. Escreve a seu bel-prazer, aquilo que julga ser a sua interpretativa "verdade". Por exemplo, deixa uma desastrosa imagem de D. Carlos e nota-se distintamente, um ou outro assomo de defesa da sua pátria, a França. O livro está carregado de erros grosseiros - que poderei apontar, se me der ao trabalho de o reler - e para a memória da rainha, acaba por ser pouco abonatório. Não o levemos a sério, pois trata-se de um arrazoado de colagens feitas dos textos de Corpechot, allgum aproveitamento do "diz-se que..." da época - e pouco mais. Não gostei. Serve para uma despreocupada leitura na praia e nada mais.
Caro N. Castelo Branco:
Também li o livro. É, supostamente, uma biografia inspirada nas Memórias da Rainha e em seus docs. vários. Aponto-lhe as mesmas criticas que fez. No entanto, nesta parte final transcrita, não vejo por que duvidar da versão «viagem para o Porto» e, muito menos da apreciação sobre a atitude de D. Manuel no exílio.
Quanto à nota sobre a estadia (duração e locais visitados) é rigorosamente verdadeira.
Claro que o S. B. utilizou algumas transcrições de D. Amélia e isso não está mal. O pior é quando se pôs a "fazer de conta e a imaginar coisas". Aliás, para a própria memória da grande rainha, o livro é negativo. Coloca na boca de D. Amélia fitos que não provou através de documentos. Para ficarmos por aqui. Ele que continue a organizar reportagens fotográficas à sra. Sarkozy, aos "Mónacos" e a gente dessa laia.
Fiquei é com uma certa curiosidade a respeito do "D.Amélia", da autoria de Isabel Stilwell. A ver vamos...
V. insiste no livro in totu e eu fico-me pela parte que transcrevi.
E essa, corresponde ou não à verdade histórica?
Parece-me evidente que sim.
Não me expliquei bem. A parte que citou é verdadeira.
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