«Continuava a mobilização para efeitos da nossa comparticipação na guerra.
É suficientemente conhecida a má disposição que no espírito nacional criou esta medida do Governo, fundamentada (...) na manutenção da nossa integridade colonial e no prestígio do regime.
(...)
Vencidas as mais instantes dificuldades, lá prosseguiu a mobilização, e ainda mal refeitos de tantas complicações, surge a grève dos correios e telegrafos.
(...) procurando desde logo organizar o serviço postal com elementos do exército.
Foram em número de desasseis os indivíduos que imediatamente fiz entrar na casa de reclusão, por me terem vindo declarar abertamente que não estavam dispostos a cumprir quaisquer ordens que lhes fossem dadas.
(...) apareceu no quartel-general o ministro da Justiça, Alexandre Braga, com crdenciais do Governo, dando-lhe plenos poderes para tomar as resoluções que entendesse necessárias.
(...) ficou resolvido que eu sustasse qualquer procedimento, até que ele, por intermédio dos seus amigos, tentasse aplanar as coisas.
No dia imediato, veio comunicar-me que tudo estava sanado, mas que se tornava preciso que eu mandasse soltar os presos que se achavam na casa de reculusão.
Lembrei-lhe que, em vista das leis militares, me não era permitido fazer tal coisa, mas que ele, com as prerrogativas que o Governo lhe concedera, poderia dar-lhes homenagem na cidade, continuando, porém, o auto de corpo de delito que eu mandara levantar (...).
Assim se fez (...).
No dia seguinte, aparece-me o mesmo ministro, visivelmente contrariado, dizendo-me que se não podia admitir que as suas ordens fossem desacatadas, pois tinham faltado aos compromissos que para com ele haviam tomado, recusando-se formalmente a trabalhar».
in Gen. A. Ilharco, «Memórias (Alguns Apontamentos sobre a Influência da Política no Exército)», Liv. Chardron, 1926, pág. 52.
7 comentários:
João Afonso,
Este é um assunto sempre na ordem do dia. Os poderes e o "lugar" que compete a cada um .
João Afonso,
Este é um assunto sempre na ordem do dia. Os poderes e o "lugar" que compete a cada um .
(Peço desculpa, mas o comentário entrou como anónimo, por lapso).
Filipa: naqueles conturbados tempos, o ministro desautorizou o general, o general não autorizou o ministro e os grevistas riram-se de ambos.
Aliás, o subtítulo do livro é, quanto a isso, absolutamente esclarecedor.
E boa Páscoa!, enquanto a vamos tendo.
Não pude deixar de imaginar o ministro Santos Silva numa situação parecida. Queria ver o que sucederia se por desgraça entrássemos em guerra. Não me refiro a passeios policiais na Sildávia e na Bordúria (Bósnia e Kosovo)....
Julgo que o Santos Silva baixava a crista. Pelo menos com os poucos generais que conheço... Outros haverá que para chegarem lá...
É a República no seu melhor!
Abaixo a República!!!
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