Carbonária foi o motor da conspiração que levou ao 5 de Outubro de 1910, sendo enquadrada por sectores da Maçonaria portuguesa.
Talvez o êxito da revolução republicana tenha assentado na transição da propaganda para a conspiração. Solidificada a ideia de que só pela força das armas cairia a monarquia, havia que preparar o golpe de forma discreta e eficaz, isto é, com protagonistas que não o eram, na sombra permanecendo.
Assim se entendeu a consolidação da Carbonária, sociedade iniciática enquadrada por sectores da Maçonaria e não pelo todo desta, pois aí coabitavam republicanos e monárquicos.
Se o regicídio, a 1 de Fevereiro de 1808, também com dedo de carbonários, deixou num impasse a caminhada republicana, certo é, também, que foi com esta organização que se chegou ao 5 de Outubro de 1910. Se pode a Maçonaria ser apontada como uma organização de elites (nota A. H. de Oliveira Marques que metade dos ministros do Governo Provisório - 1910/11 - eram maçons), a Carbonária era, complementarmente, como nota Joaquim Romero Magalhães, "uma associação popular, deliberadamente interclassista".
O segredo do segredo era, justamente, o segredo. Expliquemo--nos. Com esta organização, formou-se uma vasta teia conspirativa, mas muito poucos eram os que tinham efectivo conhecimento do que era preparado. Para o êxito da estratégia valia a componente iniciática. Os rituais a que os "primos" (assim eram designados, à semelhança dos "irmãos" maçónicos) eram submetidos incutiam-lhes o sentido de discrição e a prontidão para promover a queda definitiva da monarquia. Quando tinham de agir, os "primos" pouco mais sabiam do que a tarefa específica que lhes cabia.
Nomes cimeiros da Carbonária, como o grão-mestre, Artur Luz de Almeida, ou o famoso tribuno António José de Almeida eram, simultaneamente, maçons. Com Luz de Almeida, António Maria da Silva e Machado Santos formavam a Alta Venda do Jovem Portugal, órgão de topo da Carbonária. Deles partia a estratégia e o recrutamento, a nível nacional (Luz de Almeida corria o país, fazendo-se passar por caixeiro-viajante) e estendido, especialmente a partir de 1909, aos militares.
Nem sempre a febre revolucionária dos carbonários estava em harmonia com as cautelas do directório, mas diligências do republicano Magalhães Lima, grão--mestre do Grande Oriente Lusitano Unido, introduziu novos elementos militares na conspiração, para travar os ímpetos da Carbonária. Sempre em secretismo, e não com o brado popular que, por exemplo, era sonhado por João Chagas, a República foi preparada para ser ganha pelas armas, mas também com o apoio dos cidadãos. Nem revolta popular nem levantamento militar, o 5 de Outubro foi um misto das duas , enquadrado por estas organizações.
1 comentário:
Acrescento somente um dado que me parece importante: pelos próprios objectivos a que se destinava, os carbonários eram recrutados nos escalões etários mais baixos. Aliás: na génese da Carbonária esteve a Maçonaria Académica Portuguesa.
Simplesmente, quando se entrou na fase da organização das «choças», a grande maioria dos estudantes - gente de classes AFINAL superioras, não se queria misturar com os caixeiros, balconistas, calceteiros também já militantes.
Donde a existência de mais de uma carbonária, ou de várias «obediências», básicamente divididas entre os «iluminados» e a «ralé».
É que me República são todos iguais, sendo certo que uns são mais iguais do que os outros.
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