sexta-feira, 2 de abril de 2010

5 DE OUTUBRO - O SUPLÍCIO DOS LAZARISTAS DE ARROIOS

«Crucifixo na dextra, fronte erguida, olhar digno, P. Fragues enfrenta a alcateia no corredor, entre a bibiloteca e o refeitório. Ao vê-lo, olhos chamejantes, punhos cerrados, carabinas no ar, ruge, ulula:
- Morram os traidores! Queriam fuzilar-nos! Assassinos do povo!
- Viva a República! intima uma voz dirigida ao Superior.
- Viva Jesus Cristo! Viva Maria! - opõe a fé do lazarista, afrontando a cegueira da multidão.
A magestade do seu porte e a firmeza da sua voz detêm a marcha dos amontinados, emudecem o rugir dos impulsos.
P. Fragues aproveita a pausa para afirmar, para acentuar:
- Nós não queremos mal à República! Ninguém daqui fez fogo sobre o povo! Nesta casa não há o que procurais! - E humedecendo a voz nas lágrimas da súplica: - O que temos nesta casa... são crianças, indefesas crianças! Piedade para as crianças!
O homem do machado em riste e dos bigodes em funeral toma alento. Aponta a lâmina ao crucifixo, rouqueja, galhofeiro:
- Deita isso fora! Calca-o aos pés!
Uma gargalhada espessa glosa a bruta intimação.
- Nunca! - repica altivamente o professo.
Um golpe de machado corta o crucifixo a meio. A turba aplaude. O Superior inclina-se a apanhar do chão o fragmento caido. E ao levantar a cabeça soam dois tiros de revólver - que o atingem no peito, e o abatem, fulminantemente».

in Sousa Costa, «Páginas de Sangue (Buíças, Costas & Cª)», Liv. Editora Guimarães, 5ª ed. (1938), pág 77.

6 comentários:

Francisco RB disse...

Caro amigo, de facto tal situação devia originar uma petição ou qualquer outro movimento pela canonização dos mártires da I República, aqueles que morreram pela fé face acções injustificadas por parte dos republicanos, como ocorreu em espanha.

Filipa. V. Jardim disse...

João Afonso,


Não conhecia este episódio.São sempre tristes estes extremismos.

Nuno Castelo-Branco disse...

Filipa, não foram "extremismos". Muito pelo contrário, foi coisa vulgar.

João Afonso Machado disse...

Caro Francisco:
Estranhamente, em Espanha estão a branquear a Guerra Civil. Parece que nada aconteceu além das «valas comuns» onde obviamente só jazem partidários da República. Que é como quem diz, esquerdistas. Os tais que mataram, mas não mataram, os crentes e muitos mais.

Nuno Castelo-Branco disse...

João Afonso, nada disso é estranho. O Canal de História martela-nos o dia inteiro com uma 2ª república idealizada, cheia de liberdades e progressos de toda a ordem. O desencadear da guerra civil, surge sempre como um capricho militar, como se nada tivesse ocorrido desde 1932. Os programas falam de democracia, liberdade e mais democracia. Abusos de toda a ordem, ruína económica, perseguições, roubos e assassínios, são omitidos. Das sessões parlamentares nas Cortes, nem uma palavra, quando a própria Pasionaria ameaçava de morte os seus adversários políticos, acabando por tal acontecer a C. Sotelo. A promoção escandalosa dos "grandes feitos" das tropas da republica, dão a absurda ideia de vitórias ininterruptas que misteriosamente se transformam na derrota final, sugerindo a decisiva mão de Hitler. Enfim, um colossal rol de aldrabices, cujo fim é preparar o terreno ao pós-João Carlos I. Muitos dos programas provêm da Catalunha - região que me provoca desconfiança, confesso - e de "sectores intelectuais" ultra-minoritários e órfãos do PCE. É o descaramento total. Pior que tudo isto, é o Canal de História que aqui passa, ser teleguiado de Madrid, com traduções lamentáveis, anúncios publicitários das "horteradas" deles, truncagem da nossa própria História (veja-se o programa "As Navegações em Espanha"), onde invariavelmente surgimos integrados ou pura e simplesmente desaparecidos na acção.
O programa acerca de D. Manuel II, perdeu-se em longas tiradas sobre Afonso XIII, o governo Maura, os problemas internos decorrentes da crise de 1898, etc, etc. Uma vergonha!

João Afonso Machado disse...

Nuno: Concordo com tudo e friso o propósito que refere da preparação do pós-Juan Carlos.
Até porque estas tricas leticianas não estão a ajudar nada e o Princípe vai sentir dificuldades de lutar em tantas «frentes de batalha».