Em mais uma das várias conferências que se vão realizando pelo País (sobre a temática: centenário da implantação da I República)abordou-se a implantação e colapso da Monarquia do Norte de 1919.
Mau grado a leveza com que se ainda aborda o conturbado periodo subsequente ao Sidonismo, o ângulo continua a ser as movimentações dos "conservadores" apoiados pelo clero, discurso semelhante ao que vigorava nas decadas de 70-80, onde estas "forças" seriam a "reacção"... mais uma vez apoiada pelo clero, nem poderia ser diferente para certas ilustres personalidades.
A insistência na suposta existência de uma cortina de obscuridade protagonizada por forças conservadoras que ciclicamente aparece referenciada nos manuais escolares, face à insistência no carácter "redentor" das revoluções armadas tem sido um dos maiores obstáculos à correcta abordagem da estrutura sócio-económica nacional e as suas ligações com as revoluções e governos que se sucedem... não pucas vezes se arma em punho apontada ao povo que se pretende "libertar".
Não pretendeu mais, Paiva Couceiro, que o justo referendo sobre um regime que se implantou pelo terrorismo nas ruas de Lisboa e se espraiou pelo Pais por cabo eléctrico. Um referendo que ainda hoje é actual e necessário para perceber se o golpe de 1910 foi uma transição natural ou um corte radical no curso da História e na sustentabilidade de uma certa forma de estar no mundo.
Portugal, 100 anos após 1910, hoje não tem motivos de orgulho sobre o seu passado recente. Nação endividada e desrespeitada pelos seus congéneres aparece, nas bocas do mundo, como uma referência negativa um exemplo daquilo que não se deve fazer. Cem anos depois é tempo de arrear caminho e perceber que nem todos os atalhos levam ao destino, se ainda houver uma réstia de racionalidade para o entender.
«Em mais uma conferência sobre As Grandes Questões da República, organizadas pela Câmara/Museu Bernardino Machado, Artur Coimbra, mestre em História, falou da contra-revolução monárquica e da acção de Paiva Couceiro, um dos poucos monárquicos que não se conformou com a implantação da República e combateu-a com recurso a armas. Este general monárquico/conservador liderou a contra-revolução a partir da Galiza, onde se exilou com outros monárquicos. No campo militar, organizou um pequeno exército e fez duas incursões pelo norte transmontano. A primeira vez aconteceu um ano depois da instauração da República, limitando-se a hastear a bandeira monárquica em Vinhais; na segunda, em 1912, entrou por Valença, Vila Verde e Chaves, conseguindo, com a ajuda do padre Domingos, alguns levantamentos populares em Cabeceiras, Celorico de Bastos, Fafe e Vieira do Minho. Incursões que foram rapidamente neutralizadas.
Ao nível político, Paiva Couceiro exigiu aos governantes republicanos a realização de um plebiscito e a restauração da Carta Constitucional de 1826.
Mais tarde, foram efectuados outros ataques ao republicanismo, com a ajuda do clero. O mais importante ocorreu em 1918, com a proclamação da Monarquia do Porto, pela Junta Militar do Norte, que dividiu o país em dois: do Vouga para cima monárquico e para sul republicano. Este sonho do regresso à Monarquia durou 25 dias, uma vez que foi derrotado pelo exército republicano, mas este foi um período de grande terror e violência, que ficou conhecido pelo Reino da Traulitânia.
Segundo o orador, a Monarquia do Norte, como ficou conhecida, dificilmente teria outro desfecho que não a derrota, porque não contou com o apoio do Rei D. Manuel II, exilado na Inglaterra, nem teve o reconhecimento de Espanha e Inglaterra.
...está agendada para o dia 21, sobre o tema "A resistência operária à I República", com o professor Paulo Guimarães.»
Fonte: Jornal regional "cidade Hoje" de 22-4-2010
5 comentários:
Caros amigos é para avisar que foi descoberto o significado de ética re+publicana:
http://aeiou.expresso.pt/deixem-a-sra-deputada-ir-regar-as-plantas-em-paz=f577960
Obrigado pelo esclarecimento!
Fantastico... Quando a AR não podia ser mais ridicula,eis que nos surpreende e prova que consegue sempre ultrapassar-se a si mesma!
Com muita pena minha não pude estar presente nessa conferência, para a qual fui convidado pelo Dr. Artur Sá da Costa, da C.M. de Famalicão. O objectivo era, como monárquico, debater os argumentos do orador. Vejo agora que, indo lá, poderia ajuadar a fazer alguma luz.
A Monarquia do Norte não foi o que se disse nessa conferência: foi instaurada em quase todo o Norte sem dar um tiro - apaluso geral das populações. Foi derrtotada pela força das armas muito superiores vindas de lx e, mesmo assim, só porque o Tenente Teófilo Duarte foi vitima de traição quando com umas dezenas de cavaleiros sustava a coluna do Gen. Abel Hipólito. Os monárquicos foram derrotados em Monsanto, não no Porto. A consequente falta de abasteceimentos e munições fizeram o resto.
Muito há ainda para dizer sobre isso. Espera-se que com verdade.
Tal como diz João Afonso ainda há muito para dizer e, parece que espaço para isso, também. Pelo que está de parabéns Vila Nova de Famalicão ao convidar monárquicos e repúblicanos para o debate.
Francisco: Quanto ao assunto que refere, só gostava de perceber o que tem de tão específico no curriculum a Inês de Medeiros, para ter que vir de Paris ser deputada por Lisboa. Tanto quanto sei, viveu pouco tempo em Lisboa. E, mesmo o tempo que viveu, foi sempre, excluindo os dois anos que passou pela Universidade Nova, com educação francófona.Será que é uma grande especialista em Direito Europeu e eu não sei? Do que me lembro, era cinema, teatro, por aí...é que se é isso, não haverá outras "Ineses", que fiquem um bocadinho mais em conta?!
Calcula-se... a categoria da oratória, financiada a expensas do erário público. Diz-se e paga-se, é tudo!
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