quinta-feira, 6 de maio de 2010

Diário da República - episódios parlamentares (III)


Sessão de 11 de Fevereiro de 1921. O deputado Plínio Silva acusa os seus colegas de não serem «mais do que comparsas, dispostos eternamente a suportar os insultos de S. Ex.ª o Ministro das Finanças». Logo uma voz bradando - «Não apoiado! Não apoiado!»
Sussurro.
Vozes: «Isto é uma provocação! É preciso que o Sr. Plínio Silva retire as suas frases!
O Presidente da Câmara convidou, efectivamente, o deputado a retirar as palavras consideradas insultuosas. Mas a Câmara não se satisfez com as explicações recebidas, levantando-se grande sussurro com àpartes e protestos violentos.
O sr. Presidente: "É preciso que se restabeleça o sossego".
O sr. Afonso de Macedo: "V. Ex.ª tem de chamar à ordem o sr. Plínio Silva".
Continua o sussurro.
O sr. Presidente: "Não ouvi da parte do sr. Plínio Silva qualquer expressão menos respeitosa"
O sr. Pais Rovisco: "Se V. Ex.ª não ouviu como pode ser julgador? O sr. Plínio Silva tem de repetir a expressão...".
Muitos àpartes.
Sussurros.
O sr. Presidente: "Eu deste lugar não posso estar a discutir com os senhores deputados. Só posso responder a um por cada vez. Desde que digo que não houve da parte do sr. Plínio Silva ideia de desconsideração...".
O sr. Pais Rovisco: "V. Ex.ª parte de uma base falsa"
Sussurro.
O sr. Plínio Silva: "Não tenho dúvida em...».
Sussurro.
O sr. António Maria da Silva: "A Câmara assim não pode funcionar!".
Sussurro.
O sr. Presidente: "Peço a atenção da Câmara. outra maneira vejo-me obrigado a suspender a sessão".
Por outros grandes protestos, foram falando os srs. deputados Afonso de macedo, João Camoesas, António Granjo, Vasco Borges e Plínio Silva, procurando uma solução para o grave problema que embaraçava a Câmara... António Granjo, defendia que, uma vez que o Presidente deu como não ouvidas as expressões de Plínio Silva, "julgo inútil qualquer coisa mais. A questão está liquidada. Agora só pode ser tratada em qualquer outro sítio".
Vozes: "Aqui, aqui é que tem de ser liquidada"
Sussurro.
Vozes: "Retire-as. Aqui é que foram ditas as palavras"
O sr. Pais Rovisco: "Peço a palavra para explicações".
Vozes: "Isto não pode ser!".
O sr. Ladislau Batalha: "Assim não há maneira de trabalhar! Só pensamos em perder tempo...".
O sr. Presidente: "Vai continuar a discussão do projecto".
Vozes: "Não pode ser!"
A sessão torna-se agitada.
O sr. Presidente: "Peço ordem!"
Continua o sussurro.
O sr. Presidente: "Está interrompida a sessão".
Eram 18 horas e 25 minutos».
Fonte: Costa Brochado, «Para a História da nação», Editorial Império, pág.33.

1 comentário:

Anónimo disse...

Mais uma mentira deles. Afinal o Parque mayer não acabou. Só foi deslocalizado.

M. Figueira