sexta-feira, 14 de maio de 2010

A República das Bananas


Escrevia o Major Botelho Moniz («O 18 de Abril») em 1925, acerca dos nossos Alcazares e Tapiocas:
«Qualquer dia, para se dar que fazer aos coroneis de artilharia - dispensam-se os soldados serventes das peças.
O senhor tenente-coronel Oliveira Simões, que foi chefe de gabinete do grande homem de bem que se chama general Vieira da Rocha, brava como os que o são, oficial como há poucos - o senhor Simões, dizia eu (não foi a ele que eu chamei bravo, não haja confusões) declarou a um jornalista, olhinhos a brilhar por detrás dos óculos de tartaruga, que existem no Exército 1.900 oficiais a mais, razão pela qual seria proveitoso que eles entregassem as bengalas, visto que espada não possuem.
Teve uma ironia fácil o senhor Simões. Noutro país talvez a entrega das bengalas se fizesse em cima do seu respeitável lombo.
Mas como isso não sucedeu, razão teve S. Ex.ª para dizer que os nossos oficiais já não usam espada. Esqueceram-se dela, sim, senhor. E esqueceram-se também da bengala. Agora são portadores de canivetes, como a alguns de nós chamou o senhor Ferreira do Amaral. E amanhã talvez o sejam de "naifas" - se a miséria os obrigar a irem roubar na estrada com que sustentarem a mulher e os filhos. Acontecendo isso ao menos que sejam as primeiras vítimas as familias dos políticos que troçam hoje deles, da sua honrada miséria - enquanto S. Ex.ªs, em belos automóveis, ostentam o seu luxo novo-rico, o seu luxo sem fim confessável, que se não teve origem na prostituição das mulheres, o teve no latrocínio dos maridos (...).
Os oficiais vivem e ganham miseravelmente. Um porteiro do Congresso da República, lá porque é ou foi revolucionário civil, empalma ao Estado, no final do mês 2% mais que um capitão de infantes».
Talvez porque a Marinha sempre fosse a Arma mais apetecida dos revolucionários, constatava o deputado Júlio Martins na sessão da Câmara de 11 de Fevereiro de 1921: «A nossa marinha de guerra não tem um navio capaz de dar um tiro e possui, no entanto, vinte e três almirantes. É uma marinha de guerra que não se compreende!».
Pois não!!!
E muito menos que se "torrem" dez milhões a comemorar desgraças destas.
Fonte: Costa Brochado, «Para a História de um Regime», pág. 66 e ss.

4 comentários:

Francisco RB disse...

Caro amigo, o pior ainda resultou do que era feito para se conseguir alguns lugares na A.P. e nas empresas estatais, como a C.P., desde subornos avultados a terrenos valiosos, importava era conseguir o lugar para o filho, neto ou enteado.

Nuno Castelo-Branco disse...

Não tenho pena alguma dos militares. Se entre 3 e 5 de Outubro (bastava a 3e durante umas horas) tivessem cumprido os eu dever, nada disto se teria passado. Desonraram-se e para sempre. Por regra, não são de confiança e as suas juras não são de fiar. Eu não fio.

Francisco RB disse...

A 3? Os militares portaram-se como o povo, os políticos e parte da aristocracia bernardina soares...

João Afonso Machado disse...

Caros Amigos: o facto é que as três Repúblicas foram todas obra da tropa: em 5/OUT, 28/MAI e 25/ABR.
Em qualquer dos casos saiu asneira.
Essa asneira, tinha a ver com os politicos, nisso concordo com o Francisco.
Mesmo quando penso no 5/OUT: entre Partido Republicano e uma colecção enorme de «dissidentes» houve politicos que chegassem para nos pôr de cabeça às voltas.

O resultado: o 1º Ministro de Portugal ignora que se deve dirigir ao Papa como Sua Santidade... Chegámos a esse nível de deficit total.