Durante a I República, os monárquicos queriam restaurar a Monarquia contra o Governo. Na II República, a maioria pretendia a Monarquia através do Governo. Nesta III República, a posição dos monárquicos, pelo menos a dos mais significativos, que são os que aparecem agrupados em instituições, em forças políticas, é completamentediferente: defendemos que a Monarquia deve ser restaurada, ou instaurada, quando e da forma que o Povo Português quiser.
Mas a partir de 1974 foi visível, creio que cada vez mais visível, a degenerescênciada República. Durante o consulado de Salazar ela mantivera-se com a estabilidade que todos conhecemos, e de certo modo lhe censurámos, que era uma estabilidade artificial, mas que lhe dava uma certa respeitabilidade. Depois do 25 de Abril voltou-se em grande parte à I República, à balbúrdia, não tão sanguinolenta, mas sem deixar de ter aspectos deviolência – não podemos fechar os olhos ao que se passou no Ultramar. Mesmo na Metrópole, a existência de formas larvadas de violência, de ódios de classe, é qualquer coisa de muito forte, e a própria intriga palaciana dentro e fora dos partidos, à volta dos Governos, em torno dos Presidentes, constituem outros tantos argumentos a favor da Monarquia. Quer dizer, a República está a afundar-se. É um espectáculo deprimente, degradante. É preciso encontrar uma forma de equilíbrio que só pode estar para além do próprio jogo dos interesses em presença, quer económicos quer outros.
Contudo, penso que o facto de as características desta III República serem muito diferentes não nos deve deixar esquecer que o principal para a Restauração da Monarquia é a reforma da mentalidade. Sem uma verdadeira e profunda reforma não faz sentido instaurar a Monarquia, pois as diversas reformas do Estado perdem-se, e hoje é muito fácil destruir num dia o que se construiu na véspera. Portanto, sem uma reforma profunda da atitude mental das populações é muito pouco valiosa qualquer reforma estrutural.
Henrique Barrilaro Ruas in Portugueses. Revista de Ideias, 6-7, Fevereiro-Março de 1989, pp. 39-40
Grato por esta pertinente contribuição do meu amigo Vasco Rosa. Também publicado aqui
4 comentários:
"Monarquia deve ser restaurada, ou instaurada, quando e da forma que o Povo Português quiser"!
Ora aqui está uma ideia brilhante! Podemos então estar descansados. Basta ver o número de repúblicas que voltaram a monarquias, nos últimos 100 anos.
Só uma dica. Vejam se compreendem o que diz o 2º principio da termodinamica. Sei que deve ser um pouco complicado, mas façam lá um esforço.
Com amizade.
Caro Jerónimo:
Se o povo não quiser tudo como antes, quartel em Abrantes. Como deve ter percebido já, o que não abunda aqui entre nós são ambições políticas. Senão iamos papando da República, em qualquer partido, enquanto não chegasse a Monarquia.
Mas quer-me parecer que V. está enganado. Ou não está, e por cá vem aparecendo a fazer a sua propaganda.
Faz muito bem.
Aliás a República por alguma razão gasta 10 milhões, logo por azar no ano em que a falência ronda...
Sabe o que é? É o medo. Estão cheio de medo que a tirania acabe.
Caro J.A.Machado
verifico com pena que não seguiram a minha argumentação termodinâmica, que tirando o tom divertido até é bastante séria. Eu explico-vos. Qualquer sistema, evolui naturalmente de forma a maximizar o número de graus de liberdade. O contrário, embora possível, não ocorre espontaneamente. Tem que ser introduzida energia (ou informação, o que vem a dar no mesmo) no sistema. Os sistemas republicanos têm claramente um maior número de graus de liberdade (basta pensar na maior facilidade em trocar de chefe de estado), logo são termodinamicamente mais estáveis. Se não domina a física isto pode parecer-lhe tolice, mas pense no número de monarquias que passaram a repúblicas nos últimos 100 anos. Verifica facilmente que o fluxo em sentido inverso é incomparavelmente mais pequeno. Pode inventar as explicações sociológicas que quiser, mas em última análise é a 2a lei da termodinâmica a funcionar.
Caro Jerónimo:
Só agora deparo com o seu comentário «termodinâmico», que me apanha em cheio no maior buraco da minha vida que é não perceber nada de «ciências exactas».
Por isso, vou deixar de lado o caso espanhol, o Rei Simão da Bulgária, etc. E mantenho-me na minha: nem quero saber de estatísticas.
Acredito na Monarquia. Para mim - é Portugal. Mas se os portugueses não quiserem, seja o que Deus (ou os portugueses) quiserem.
Portanto, estamos no grau de liberdade máxima. Mesmo, eventualmente morrendo à fome, sem libertar energias, o que conduz ao grau de liberdade mínima.
Para pior já não deve ir...
A temperatura de cá - V. dirá se é muito quente ou muito fria. Temperada é que não acredito que seja.
Aceite os meus cumprimentos.
Enviar um comentário