segunda-feira, 17 de maio de 2010

A maçonaria e a «ética republicana».




Por coincidência derivada da investigação para um trabalho académico, dei comigo a folhear uma revista intitulada «Grémio Lusitano». O periódico, edição de boa qualidade gráfica, é uma espécie de órgão oficial da maçonaria portuguesa, de carácter semestral. A edição que me veio parar às mãos no depósito da biblioteca de uma faculdade do Porto, era já o número 15 (1.º semestre de 2010), de uma tiragem de 1000 (!) exemplares, de periodicidade semestral (!).
Folheei-a.
Noventa e seis páginas onde vários autores, «anónimos», a coberto do seu nome simbólico, discorriam sobre «Ética republicana», «Educação, Cidadania e Desenvolvimento», «Cidadania, credibilização do Estado e Maçonaria», «Ética maçónica, republicanismo e casamento», entre outros aspectos mais relacionados com factos históricos e do património, como as abordagens ao Palácio Pombal, em Oeiras, e a Revolta de 3 de Fevereiro de 1927 ou, ainda, as «origens da maçonaria especulativa».
Pela actualidade do tema, o título «ética republicana» atraiu-me, impelindo-me a ler o parecer do autor, - um tal de Aramis, da Loja Acácia. Segundo o articulista em Portugal o «diálogo político-filosófico é inexistente» [e] «aceita[-se] como constitucionalmente protegida a organização republicana do Estado». Por isso, não querendo o Aramis cair «na estafada argumentação de que a Ética Republicana deve ser um conjunto de actos governativos virtuosos e honestos», presta-se a um ensaio que considera ser do plano «do pensamento político». Fala em Cícero, Maquiavel, Locke e Montesquieu, como convém a todo o bom orador de tribuna que verse sobre tal assunto e passa à tirada: «as figuras que defendem sistemas de governo ou formas de Estado diferentes assumem a dimensão patética ou trauliteira da sua argumentação». Acrescenta, «ninguém consegue explicar coerentemente porque devem existir pessoas com títulos nobiliárquicos, numa época onde se premeia o mérito e não o privilégio de nascimento».
Prossegue, falando sobre tópicos que são pertença das grandes ideias de Ética, independentemente do seu amesquinhamento segundo as formas de governo. Mas, resgatando esta última ideia do Aramis, eu perguntaria: será que alguém consegue explicar coerentemente porque alguns razão indivíduos se reúnem em lojas, envergando aventais e reivindicando para si uma lógica solidária que devia ser apanágio de todos os mortais e não só de iniciados e irmãos escolhidos?
A maçonaria, no seu carácter intrínseco de agremiação exclusivista, de subterfúgio de grupo para-oculto é a anulação da ideia de Bem Comum, de Solidariedade. Não é república, nem é monarquia, é a aristocracia aristotélica ou seja, o governo de poucos sobre muitos. E afinal, quem atribuiu o direito de exclusividade a esses poucos?
Onde está, nesta ideia de elite supranatural, a tal «ética republicana» a Liberdade e o Bem Comum?

1 comentário:

Nuno Castelo-Branco disse...

Bem podes ficar à espera da resposta!