É uma edição do Autor. Bom sinal!... O Autor, Eurico Carlos Esteves Large Cardoso, remata as suas "Palavras prévias" assim brilhantemente: «Nós, monárquicos por convicção, temos, porém, sempre em vista, tratar os assuntos dos nossos "adversários" políticos com a maior objectividade, veracidade e isenção, atributos de que já demos provas em anteriores trabalhos, pela simples razão do sectarismo não ser a nossa bandeira, nem a maledicência a nossa divisa»
De modo que fomos procurando dados biográficos desse que se doutorou em 1895, em Direito, com 17 valores e uma tese em que atacava violentamente a Rerum Novarum, pobre coitada! Foi o advogado mais tributado pelo Fisco, gostava de viver bem e tinha automóvel (um dos 300 então existentes em Portugal). Não obstante, preconizava o «socialismo económico na República».
Conseguiu ser eleito deputado pelo Porto. em 1899, aproveitando o descontentamento gerado nas populações pelas medidas recomendadas pelo insígne Ricardo Jorge (que abandonou a cidade sob ameaças de morte) aquando de um surto de peste bubónica.
Sobre ele escreveu Sampaio Bruno: «pseudo-republicano, desleal republicano, que tudo faz para ser deputado, jogando com um ramo de republicanos e socialistas e outro de monárquicos, audacioso piritoso, um Dr. Alonso». Em resposta, Costa esmurrou-o em público. Esmurrou um ancião, ele que andaria pelos 30 anos.
Há muito que ler. Remato com este episódio, ocorrido em 4 de Outubro de 1910, quando Afonso Costa, que prudentemente não comparecera à Rotunda, julgou ser vitima de um atentado contra a sua pesoa. Ouviu tiros, convenceu-se que fora atingido. O médico republicano Malva do Vale, que o detestava, mandou-o despir e observou-o, após o que «declarou sarcásticamente que ele tinha no corpo um buraco de nascença e natural».
4 comentários:
"No "discurso de Santarém" e na imprensa Nacional, Afonso Costa anunciou os seus propósitos com meritória franqueza: perseguir os monárquicos e a Igreja, eliminar a oposição moderada, "rachar os sindicalistas" (a expressão não é acidental) e estabelecer a ditadura do PRP, enquanto não terminasse a "obra comum" dos republicanos ou, por outras palavras, enquanto ele quisesse"
VPV-Ensaios de História e Política
As semelhanças entre o "Rumo à Vitória" de Cunhal e a estratégia de Costa são fantásticas, autênticos manuais revolucionários; se o PREC tem resultado para os "maus" era mais um Costa mas este teria o apoio da Rússia por trás e o inverno bem que poderia ter durado mais de 16 anos...
Um abraço.
Concordo inteiramente consigo, caro Nuno. Tudo resultado do fanatismo de ambos. Esta biografia do Costa é interessantissima e eu vou publicr mais alguns exceros de testemunhos da época, aliás republicanos. Não tinha, por exemlo, a noção do ódio profundo entre Machado dos Santos e Costa. Desde 5/OUT até ao fim - 19/DEZ/21, quando assassinaram M.Santos.
Realmente, ode acaba a convicção profunda e começa o fanatismo? Todos nós temos sempre de ter muito presente essa fronteira, que é também a que separa a justiça das atrocidades ou a razão da estupidez.
É falso. O Malva verificou que o Costa só tinha um buraco: a boca. Por lá entrava muita coisa e saía muito mais.
M. Figueira
Cá está uma obra para ler, não podemos esquecer que o brilhantismo jurídico de a. costa era igual à rudez e brutalidade de modos.
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