quarta-feira, 5 de maio de 2010

Diário da República - episódios parlamentares (II)


Sessão de 6 de Dezembro de 1920. O ministro das Finanças apresenta à discussão uma proposta de lei, com um pedido de urgência aos deputados.. Um deles, Mariano Martins, considera necessitar de tempo para analisar o documento. E propõe que a discussão seja adiada por 48 horas. O deputado Pais Rovisco é de opinião contrária e solta um àparte: «Mais um dia!». Mariano Martins não achou graça: «Que quer V. Ex.ª dizer com isso? V. Ex.ª mostra o mais absoluto desconhecimento destes assuntos. Um assunto de tal natureza não se pode apreciar com consciência em menos de quinze dias...».
«O sr. Pais Rovisco: Ora, ora...
O sr. Mariano Martins: Irrita-me essa petulância...»
«E não foi preciso mais nada: "Nesta altura - diz o Diário das Sessões - o sr. Pais Rovisco avança para o sr. Mariano Martins, dando-se uma cena de pugilato, que obriga o sr. Presidente a interromper a sessão».
Sessão de 10 de Fevereiro de 1925. O deputado Julio Gonçalves classifica de miserável certa atitude do deputado Moura Pinto. Este atira-lhe com a ponta do cigarro que estava fumando. Aquele agradeceu-lhe a beata com um copo de vidro que, falhando o alvo, «foi apanhar a cabeça do sr. deputado Afonso de Melo, vítima inocente destas liberdades parlamentares».
Fonte: Costa Brochado, «Para a História de um Regime», Editorial Império, 1949, págs. 32 e 44.

13 comentários:

Francisco RB disse...

Caro amigo em Taiwan (ainda hoje) é pior!

João Afonso Machado disse...

Pois é. E em Portugal ainda se mandam uns cornichos lá para a bancada dos deputados ou se insultam as mães deles. É pena. Seria preferivel uma comparação nossa com algum país da zona euro. mas por bons motivos, é claro.

Francisco RB disse...

Não é a mãe, mas a tia...

João Afonso Machado disse...

A tia mansa?
E um tal Galamba (acho eu, não queria levantar falsos testemunhos) que foi de f.d.p. para um colega. E o que o Afonso Candal já ouviu e a TV reproduziu?

Paulo Selão disse...

Pfff não há meio de voltar a acontecer. Agora é que era giro, a cores e tudo!

Anónimo disse...

Está tudo mal: o copo e a prisca na cabeça dos deputados são mais merecidos do que a cuspidela no Jorge de Jesus no domingo passado.

M. Figueira

Francisco RB disse...

Ora, a melhor foi a do "Barda-merda para o fascista", do Alm. Pinheiro de Azevedo... punha estes deputados a um canto...

João Afonso Machado disse...

O P. de Azevedo falava assim porque era um homem simples e directo e não porque fosse ordinário. E falava para o povo e para os jornalistas. Não num lugra grave e circunspecto como o Parlamento- onde ele, se calhar, não tinha paciência nenhuma para estar. Imagino-o a dormir umas sestas felizes durante as sessões.
Era um bom homem.
Politica e quartel para ele valia tudo o mesmo.

Francisco RB disse...

Caro amigo tenho pessoas de família que foram deputados na altura, dos que foram sequestrados... faz-nos é falta mais pinheiros de azevedo!!!
Quanto à questão de fundo, não podemos esquecer que quer no Parlamento sempre ocorreram tais práticas, quer em monarquia quer em república, Eça de Queirós, no seu Conde de Abranhos parodia tal situação, o "Lipinho" caricatura do deputado atacava amigos e inimigos, o A. Costa chamou bobino a El-rei D. Carlos, provavelmente deveria ter havido alguém que lhe respondesse...

João Afonso Machado disse...

Caro Francisco:
É verdade - nos últimos anos da Monarquia, o Parlamento também era agitado. Mas havia uma diferença: as coisas depois resolviam-se cá fora. Os célebres duelos. Que eu saiba não há notícia de pancadaria lá dentro. Nem de pontas de cigarro ou copos atirados pelos deputados aos colegas!
Aliás, mesmo na República isso foi frequente apenas no período 1920-26. E espere por mais episódios...
Quanto à 3ª República, os casos mais notórios são de agora, curiosamente. Mesmo no PREC, o que aconteceu de pior foi o sequestro dos deputados pelos operários da Cintura industrial de Lx, imediatamente antes de 25/NOV. Na 2ª República o problema nem se pôs - não havia Parlamento...

Francisco RB disse...

A questão do "copo" mostra a fibra moral daquela gente, já viu deputado de copo na mão a discursar! É o provincianismo puro!

João Afonso Machado disse...

Se calhar era «copo de água» (tinha havido casamento nesse dia no Parlamento).

Lurdes Gonçalves Pereira disse...

Deliciosa esta cena parlamentar! E quantos deputados hoje, na sua postura selecta, não têm vontade do mesmo! Copos, cigarros , telemóveis e outros balázios afins... Pena não passarem a vias de facto. Seria interessante e podiam fazer alvo, por exemplo, à bancada histérica e presunçosa do bloco de esquerda, com aquele detestável louçã como alvo principal!