Em vésperas da subida ao trono d'El-Rei D. Carlos, Fialho escreveu um longo texto satírico - pretensamente uma carta dirigida a Sua Magestade - à qual foi dada a devida publicidade, ou não fosse a Monarquia um regime de liberdade de expressão. Nela ironizava Fialho, em certo passo:
«Porque enfim V. M. não tem agora tão grandes coisas no seu reinado que possa prescindir assim de um regicídio. (...) é pois V. M. o único que intenta penetrar os umbrais da História sem bagagem (...) Como há-de o reinado de V. M. fazer fumo, se ninguém contra ele ainda fez fogo?»
Sobreveio a República.
Em 1911, Fialho de Almeida dá ao prelo o seu livro Saibam Quantos... do qual consta o capítulo «A Morte do Rei»:
«Em plena rua, numa chacina que visava exterminar toda a família, D. Carlos pagou com a vida os crimes do seu povo, crimes já seculares de bestificação, de ignorância, de antipatia pelo progresso, de desamor pelo trabalho, de corruptela, de ambição pessoal, de irrespeito às leis e de indiferença ou burla pelas ideias substanciais de pátria e de nação.
A sua morte pela barbárie sanguinária e cafrealmente besta em que se envolve, e pelas apoteoses abjectas que a seguiram, lança um labéu na terra portuguesa, porque nenhuma obra neste século já se cimenta com sangue, e os que assassinam não podem ser beneméritos da história, por mais que a demagogia o escreva em folhas e ouse insinuar em discurseiras.
Foi a tragédia da Sérvia com as orgias populacho de Paris quando o Terror; e sem o advento de uma vida nova, administrativa e social, que ainda lhe atenuaria a virulência... Mas não! O rei assassinado a 1, e ainda não recluído à sepultura, se ressuscitasse, poderia ver a 2, no governo os mesmos homens, a mesma graxa nas almas, mesma passividade nas ruas, mesmo palavreado nos comícios, e nos jornais os mesmos artigos sem fundo e as mesmas relas palavradas.
Pobre, pobre D. Carlos! Quando se pensa que afinal era mais inteligente, e teve talvez virtudes superiores às dos seus adversários - e por não dizer - às dos seus cúmplices...».
Fialho teve de ver, para comparar e crer. Como S. Tomé. E percebeu, finalmente que era o Rei quem melhor faria o contrapeso entre a Nação e a classe política. Essa que ainda hoje nos atazana e da qual o Presidente da República faz parte.
6 comentários:
Um bom pontapé na porta e a casarona vinha toda abaixo. Resta saber quem tem perna para isso!
Caro Nuno:
eu até acredito que a gente consegue!
Carissimos,
Sem violências,vai-se dando a conhecer esta alternativa de regime. Através dos textos, dos autores , dos factos. E, fazendo do debato civilizado que aqui se tem feito, entre monárquicos e repúblicanos, um exemplo.
Tenho seguido com agrado,as intervenções de todos, também do Nuno F. Couto (que até deixou o estaminé dele para aqui comentar).
Isso é salutar. Não se passa em todos os espaços da blogosfera infelizmente.
Episódios sangrentos e violentos já temos que cheguem. A morte de D. Carlos e do Infante, foi um deles.
Se para a morte de D. Carlos ainda há quem arranje argumentos, o que dizer sobre a morte do jovem infante...
Filipa:
Não foi o Infante. Esse escapou, e reinou, jamais pensando que isso aconteceria.
Mataram foi o Principe Real (o nome ainda perdura na toponimia da capital).
Esse tinha de morrer. Se vivesse seguia o caminho do Pai. reinava e mantinha Portugal. E hoje não eramos a porcaria que somos.
O Príncipe também tinha de morrer!
Qualquer filho de um PR não!
O nosso Príncipe ainda puxou da arma para defender a Família. Era um Homem! Sabia defender-se e defender os seus. Nós, portugueses, inclusive.
Filipa:
Deixe-me acrescentar o terrivel destino dos monarcas: não basta matar o Chefe do Estado, é preciso matar também o sucessor.
Isto é: ser rei não é uma regalia, é uma destinação perigosa, ao serviço dos nacionais.
João Afonso,
Chamei-lhe infante, mas estava a referir-me a D. Luís Filipe, pelo que lhe deveria chamar herdeiro. Quem escapou foi o mais novo: D. Manuel.
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